(CENA IN DEAD) O assassinato de Judith Myers na abertura do filme “Halloween” de 1978

Eita!

Como John Carpenter soube tirar vantagem de um baixo orçamento para criar uma cena de impacto, na abertura do filme “Halloween” de 1978.

por Guilherme Sander

US$ 300 mil dólares foi o que “Halloween” custou a seus produtores para ser realizado, desde a concepção do roteiro até o seu lançamento nos Cinemas. Começou com uma recepção modesta de mídia e público, sendo um filme independente sem lançamento amplo em território nacional; e terminou arrecadando USS55 milhões só nos Estados Unidos, detendo o recorde de filme independente de maior arrecadação na história, até o lançamento de “A Bruxa de Blair”, em 1999.

John Carpenter foi contratado com a condição de não gastar mais do que o teto estipulado por Moustapha Akkad (produtor de vários filmes da série), mas garantiu que tivesse total controle criativo do filme. Sendo assim, ele e a então namorada, escreveram o roteiro juntos; atuaram como produtores; fizeram toda a seleção de elenco, que colocou Jamie Lee Curtis (filha de Janeth Leigh, a musa de Alfred Hitchcock em “Psicose”) no papel principal; e ainda compôs a famosa, simplista e eficiente trilha-sonora.

Os recursos eram tão limitados e o cronograma de filmagens tão apertado (afim de evitar custos), que os próprios atores cederam suas roupas como figurinos e, as vezes, colaboravam na execução técnica, movendo equipamentos durante e entre as gravações das cenas. Eram basicamente uma câmera só e um steadicam – que é uma espécie de colete com braços mecânicos, acoplado ao corpo do operador com o fim de prover movimentos de câmeras suaves, ao longo do espaço cênico, sem trepidações.

Foi com essa ferramenta; uma trilha sonora eficiente e muito suspense, que John Carpenter filmou a abertura de seu filme “Halloween”, criando uma das cenas mais impactantes do Cinema de Horror. Aqui, ele fez muito, usando muito pouco.

A partir do som de crianças evocando o seu ritual de Halloween em pedir “travessuras ou gostosuras”, a cena abre em um plano sequência (onde toda a cena é realizada sem cortes, apenas com movimento de câmera). Vemos uma casa típica de um subúrbio americano, onde o estilo de vida é tranquilo e pacífico. A câmera assume o ponto de vista de um personagem que ainda não sabemos quem é.

Opening Shots: 'Halloween' | Scanners | Roger Ebert

A tranquila residência, local dos acontecimentos iniciais de “Halloween”, de 1978. Imagem: Divulgação.

No que ele espreita pela janela da residência, vemos um casal de adolescentes se beijando enquanto as coisas vão se esquentando. A garota avisa: “Michael está em algum lugar”, antes que eles correm para o andar de cima empolgados. A contravenção típica dos filmes de horror dos anos 70 é estabelecida: faça sexo pré-nupcial e você, automaticamente, colocará sua vida em risco.

Opening Shots: 'Halloween' | Scanners | Roger Ebert

O casal de adolescentes sendo observados na cena de abertura em “Halloween”, de 1978. Imagem: Divulgação.

Note que a trilha-sonora marcante, entra no momento certo em que a luz do quarto, para onde os dois se dirigiram, se apaga. O personagem então, entra pelos fundos da casa; acende a luz da cozinha; abre uma gaveta e vemos sua mão pequena, com o detalhe de estar vestindo um tecido liso e colorido como o de uma fantasia de halloween, retirando uma grande faca de açougueiro.

Em seguida, vemos o namorado da garota aos pés da escada, se despedindo enquanto veste a camisa. O coito aconteceu – sentença de morte para alguém. Assim que ele vai embora, o personagem a espreita segue subindo as escadas; encontra ao seu encalço uma pequena máscara de uma fantasia qualquer e a coloca em seu rosto. Ao vesti-la, a imagem assume o contorno apenas do que ele consegue enxergar através dos pequenos buracos da máscara, correspondente aos seus olhos.

Ele adentra o quarto da garota, seminua, penteando seu cabelo em frente ao espelho. No que ele se aproxima e ela nota sua presença, ouvimos ela se surpreender dizendo: “Michael!!!”, revelando sua identidade. Não sabemos quem Michael é, mas sabemos que é ele a sua frente. A trilha sobe o tom e vemos ela gritando enquanto ele a esfaqueia. A câmera e o ponto de vista de Michael, desliza para os movimentos na sequência de facadas; vemos seu sangue escorrendo pelos ferimentos até que ela caia no chão, perdendo os sentidos.

The Horror Canon: John Carpenter's Halloween (1978) Entered As Part Of The Horror Canon

Judith Myers de cara com Michael em “Halloween”, de 1978. Imagem: Divulgação.

Então, Michael segue para fora da casa, calmamente. Abre a porta da frente, caminhando em direção a rua. Um carro se aproxima, diminuindo a velocidade lentamente até estacionar. De dentro dele, sai um casal que caminha em direção ao personagem. Ouvimos o homem dizer: “Michael?”, com um som expressivo de incompreensão, como se quisesse dizer “O que você está fazendo aqui?”. É quando a sua máscara é retirada e temos o primeiro corte: vemos então, que o personagem de Michael é apenas uma criança de 6 anos, segurando uma faca suja de sangue, com um rosto inexpressivo e deixando o casal (provavelmente seus pais) atônitos e sem compreensão do que estava acontecendo. A imagem vai se distanciando enquanto a trilha assume um tom de suspense ainda maior, finalizando a sequência e deixando o espectador juntando todos os elementos a fim de absorver todo o contexto.

Franchise Frenzy: Halloween (1978) - the Roarbots

O pequeno Michael Myers, ao fim da sequência inicial de “Halloween”, dirigido por John Carpenter. Imagem: Divulgação.

Quer ver a cena? Acesse o link logo abaixo, que tem uma restrição de idade devido a nudez e violência (basta clicar no vídeo e atestar ciência do conteúdo). Mas se você não viu o filme, aproveite e veja-o por completo. Você consegue encontrá-lo disponível para Streaming através da Amazon Prime Vídeo.

https://www.youtube.com/watch?v=nnWw060ygG8&ab_channel=TheJunkBucket

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Guilherme Sander escreveu em 2007, o artigo científico sobre o filme Halloween, de John Carpenter, sobre como o Cinema de Horror e seu subgênero Slasher Film construíram alegorias para o comportamento de uma sociedade amedrontada, refletindo fobias sociais de uma comunidade conservadora.  

 

 

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