A Mulher no Jardim – Começa bem, já o final… || Resenha COM SPOILER

Vai ter spoiler por ai
Então, queridos internados, venho aqui com mais uma pílula em forma de resenha para amenizar — ou não — os surtos cinematográficos de vocês. Lembrando que esta resenha é 100% baseada na minha opinião e, mais ainda: vai rolar uns spoilers por aí.
Então vamo nessa.
Sinopse
Uma mulher vestida de preto da cabeça aos pés aparece misteriosamente no jardim da casa de Ramona (Danielle Deadwyler). Essa figura sombria passa os dias declarando mensagens enigmáticas e ameaças assustadoras e perturbando o cotidiano da família. Devastada por um luto e cuidando sozinha de seus dois filhos, Ramona acredita que a mulher está apenas perdida ou demente. Mas, quanto mais perto ela se aproxima da casa, mais claro fica que suas intenções são outras, pouco pacíficas e bem mais tenebrosas. Sem saber os motivos, só resta a Ramona lutar contra essa força espectral e proteger a si mesma e seus filhos, buscando sobreviver a qualquer custo.
Pois bem. É um filme que, inicialmente, cria um ambiente denso e cheio de “não ditos”, que sugerem ausências importantes.
A Blumhouse tem investido bastante na construção de filmes de terror que envolvem temas raciais — o que, pessoalmente, me atrai muito. Porém, em A Mulher no Jardim, o que temos é justamente a não discussão racial. Pode parecer contraditório, mas uma família preta que não fala sobre as violências do racismo, focando apenas em conflitos internos e subjetivos, também é uma forma de representação racial potente. Porque coloca essas pessoas em condição de existência plena, humana — e essa é uma das pautas centrais na luta por direitos raciais. Esse é o primeiro ponto de grande importância que o filme nos traz.
O segundo ponto é a depressão e seus efeitos dentro de uma família. A importância desse tema no filme é muito válida, porque ele ilustra, com elementos simbólicos e imaginativos, o nível de sofrimento que alguém depressivo pode estar enfrentando. Muitas vezes, quem está nesse estado nem percebe que está mal — e se isola. A abordagem não é perfeita, mas é sensível. Esses dois pontos deram bastante valor à obra, pelo menos pra mim.
Agora, cinematograficamente falando, o filme começou bem, com um ótimo trabalho na criação do suspense em torno da figura da mulher misteriosa. Porém, ele se perde bastante no desenvolvimento. Algumas resoluções parecem jogadas, apressadas, sem muita lógica.
(Alerta de spoiler)
Por exemplo: a mulher se movimenta pelas sombras, e de repente o filho começa a fechar todas as janelas pra impedir que ela entre. Mas, logo depois, ela entra de qualquer jeito. Isso não fez o menor sentido.
Além disso, há outras inserções apressadas, como o fato de a mãe pintar quadros — mas não existe nenhum desenvolvimento sobre sua trajetória artística. E sobre sua depressão: até certo ponto, parecia algo relacionado ao luto pela morte do marido. Mas, em flashbacks, percebemos que ela já enfrentava isso bem antes. Ou seja, o filme sugere coisas, mas não amarra bem as ideias.
Depois de toda a tensão criada com cuidado no início, o filme simplesmente troca de tom e começa a apelar para um terror baseado em jumpscares, com movimentos rápidos e efeitos sonoros exagerados — que mais irritam do que assustam. Logo em seguida, tenta um terror mais sensorial, mergulhando nas paranoias da mãe. O problema é que, nesse vai e vem de alucinação e realidade, o ritmo se perde. Chega um ponto em que eu já não sabia mais o que era paranoia e o que era real — e não de um jeito bom, proposital. Era mais confuso do que imersivo.
Eu acho que poderia ter sido melhor. Saí da sala com a sensação de ter sido um pouco enganado.
Mas, como já pontuei, o filme tem sua parcela de importância — e merece ser assistido com esse olhar.