A Outra Forma – Distópico, mas real || Resenha
Uma crítica que se enquadra!
Diego Guzmán, diretor colombiano, mostra uma visão provocativa e original em A Outra Forma. O filme mergulha o espectador em uma distopia visualmente diferenciada e traz uma narrativa complexa. A obra é ambientada em um futuro onde a humanidade, adota uma solução aparentemente inovadora: um sistema que prioriza a uniformidade emocional como forma de estabilizar a sociedade. A narrativa se desenvolve em um cenário que apresenta um certo arquitetônico, reforçando a sensação de desumanização e controle absoluto.
O universo distópico de Guzmán é, ao mesmo tempo, fascinante e perturbador. O Sistema de “harmonização”, funciona por ferramentas que forçam os indivíduos ficarem em certas posições de forma a moldarem, cada um, a uma sociedade que se mostra estar sempre preocupada em seguir a padronização imposta. A promessa é que, quem consegue estar moldado à sociedade, será possível ascender ao paraíso. O que se mostra um tanto falho, já que o custo é a perda da individualidade e da espontaneidade humana. Guzmán aparenta querer utilizar esse cenário para criticar tendências contemporâneas de controle social e a busca excessiva por uma utópica harmonia da sociedade, destacando as contradições entre liberdade e segurança.
ASPECTOS TÉCNICOS
O roteiro, também escrito por Guzmán, é pontuado por personagens que resistem ao sistema de formas sutis e complexas. O primeiro deles é um rapaz que sempre esteve seguindo os padrões estabelecidos, mas que se vê pensando um pouco fora deste padrão. Além dele temos um outro homem que nunca é apresentado utilizando as ferramentas impostas pela sociedade, mas, ao invés disso, utiliza uma caixa na cabeça, fazendo clara alusão ao pensamento dentro da caixa. Este personagem é bastante interessante, uma vez que ao começar “pensar fora da caixa” coisas “estranhas” começam a acontecer.
Temos também uma mulher que aparenta ser uma artista e exemplo de padrão. Ela secretamente tenta recuperar suas emoções suprimidas e acaba sendo um símbolo de resistência contra o conformismo. Sua luta contra sentimentos reprimidos cria momentos de tensão poética e desafia a narrativa oficial do governo distópico. E a narrativa desliza com maestria nesta obra fantástica.
Um dos grandes méritos do filme está na crítica implícita à tecnocracia e à normalização de comportamentos sob o pretexto de um “bem maior”. O roteiro habilmente aponta as semelhanças entre o fictício e as práticas contemporâneas de vigilância e manipulação emocional. A dependência de algoritmos para prever e moldar comportamentos humanos é uma preocupação que ressoa fortemente na era digital, tornando o filme não apenas um entretenimento distópico, mas também um alerta político e filosófico.
A estética de A Outra Forma merece destaque. A direção de arte traduz visualmente a opressão emocional com trajes sem expressão contrastando com os aparatos que cada um usa para se adequar à sua forma estabelecida e iluminação claustrofóbica. No entanto, esses elementos são contrastados pelas cores vibrantes, que simbolizam uma luta interna e externa por autenticidade. E a trilha sonora é a cereja do bolo, tendo sido premiada em diversos festivais. Ela complementa essa dualidade, alternando entre silêncio opressor e explosões sonoras nos momentos de ruptura emocional.
EM RESUMO…
Em síntese, A Outra Forma é um filme que desafia o espectador a refletir sobre as armadilhas de uma sociedade que valoriza a uniformidade em detrimento da liberdade. Diego Guzmán constrói uma obra que não apenas critica a desumanização tecnológica e política, mas também celebra a resiliência do espírito humano. Com sua narrativa provocativa, atuações marcantes e uma estética que reflete suas ideias de forma brilhante. O filme se consolida como um marco no gênero distópico contemporâneo.