Adeus, Francisco: A morte do Papa e o legado revelado em Dois Papas

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Na manhã desta segunda-feira, 21 de abril de 2025, o mundo se despediu de Jorge Mario Bergoglio — o Papa Francisco — aos 88 anos, no Vaticano. A notícia abalou fiéis e não fiéis ao redor do mundo. Um pontífice que marcou a história não apenas pela fé, mas pela coragem de reformar, dialogar e humanizar a figura papal. E, curiosamente, muito desse espírito já havia sido capturado pelo cinema, em uma obra que hoje parece ainda mais essencial: Dois Papas.
Francisco foi o primeiro pontífice latino-americano, o primeiro jesuíta e o primeiro a escolher esse nome em homenagem a São Francisco de Assis. Desde sua eleição, em 2013, assumiu um estilo pastoral que rejeitava luxos, abraçava os pobres e enfrentava temas difíceis como abusos na Igreja, meio ambiente e inclusão. Mesmo enfrentando resistências internas, ele promoveu um papado mais próximo das pessoas. Era um homem que preferia viver na modesta Casa Santa Marta a ocupar os palácios vaticanos. Um líder que pedia: “rezem por mim”, em vez de se colocar acima dos outros.
Em 2019, Dois Papas (dirigido por Fernando Meirelles) trouxe uma interpretação brilhante desse momento de transição na Igreja. O longa foca no encontro — parte ficção, parte inspirado em fatos — entre o então Papa Bento XVI (Anthony Hopkins) e o Cardeal Bergoglio (Jonathan Pryce), futuro Papa Francisco. O filme é muito mais que uma biografia: é um embate entre conservadorismo e progressismo, tradição e mudança, silêncio e diálogo. Meirelles conseguiu mostrar a alma de dois homens complexos, com visões diferentes, mas unidos pela fé.
Com a morte de Francisco, o filme ganha um peso quase profético. Ele não retrata apenas uma troca de poder, mas o nascimento de uma nova postura dentro da Igreja. A mesma que o mundo agora chora ao perder.
Francisco, além da tela
Quem assistiu Dois Papas sabe que Francisco não era um santo imaculado. O filme aborda inclusive sua controversa atuação durante a ditadura argentina. Mas, ao mesmo tempo, mostra um homem disposto a carregar seus erros e seguir em frente — algo raro entre os grandes líderes. É esse Francisco que ficará na memória: humano, falho, mas guiado por empatia. O papa que lavou os pés de presidiários, que usava sapatos simples e que pedia menos julgamento e mais misericórdia.
Agora, com a morte de Francisco, o conclave será convocado, e o mundo aguarda seu sucessor. Mas fica a dúvida: será possível manter o espírito que ele deixou? Ou a Igreja retornará ao silêncio? Seja qual for o futuro, o cinema, com Dois Papas, eternizou um momento raro em que a fé encontrou o diálogo, e o Vaticano teve um líder que escutava mais do que falava. Um homem que preferia pontes a muros.
Adeus, Francisco. Que São Pedro te receba com o mesmo sorriso com que você costumava acolher o mundo.