Homem com H – Um clássico nacional! || Resenha

Homem com H

Ney era o terror pra épocaComo vocês estão, internos desse hospício?
Creio que ansiosos pela pílula cinematográfica de hoje, né? Pois bem, preparem-se para serem devidamente remediados. Mas ó: essa pílula vem com uma dose cavalar da minha opinião — e pode causar efeitos colaterais como euforia, dores de cabeça e confusão mental. Avisados estão. Bora pra resenha!

Tudo o que sabemos sobre Homem com H, cinebiografia de Ney Matogrosso

Esse filme é uma obra deslumbrante do início ao fim. Não poderia ser diferente, já que trata da vida da lenda viva Ney Matogrosso. A narrativa tem camadas gritantes, tanto na tela quanto fora dela. E é nítido que, por Ney estar vivo e pulsante, ele participou do processo criativo — apontando o que deveria (ou não) saltar aos nossos olhos.

Deboche, resistência e leveza

As denúncias contra o regime militar e a repressão que os artistas enfrentaram são expostas com um tom de deboche sutil e desarmador. Ney responde às tentativas de silenciamento com uma serenidade provocativa — quase um tapa de luva.

Até mesmo a forma de abordar a epidemia da AIDS foi feita com delicadeza. O filme apresenta o sofrimento causado por esse mal que assombrava a comunidade artística LGBTQIA+ — que naquela época era chamada apenas de GLS — e mostra a subversão no olhar de Ney, que se recusava a se curvar diante da maldade que recaía sobre o próprio corpo. Uma resistência silenciosa, mas poderosa.

Na minha opinião, o não reagir é uma arma poderosa. Reduz ataques a simples mesquinharias. E o filme transmite isso com maestria, nas reações dele a repórteres invasivos, autoridades e relacionamentos abusivos.

Reflexões profundas e pessoais

Ney Matogrosso é um risco social. Uma bomba atômica apontada para o Estado.
Enquanto assistia, senti vergonha das vezes que não tive coragem de encarar meus próprios medos e ser quem eu sou, de verdade.

Refleti bastante: será que quero mesmo estar aqui, entorpecendo vocês com essas drogas digitais? Ou quero estar escrevendo roteiros, sendo modelo, desfilando, vendendo café e fazendo mil coisas ao mesmo tempo?
Ou talvez… só sendo pai de dois filhos, pequeno produtor agropecuário, casado com uma mulher de gostos simples iguais aos meus? Juro que pensei nisso. Kakakakaka!

wTrilha sonora impecável, alma indomável

Além de tudo, a trilha sonora é impecável. O filme é uma explosão de sensações, uma obra bruta, animal, um bicho feroz — exatamente como Ney.

O elenco, por inteiro, está de parabéns. A entrega foi digna de aplausos. Mas o destaque vai, sem dúvida, para Jesuíta Barbosa, que incorporou a energia do artista ao máximo. A atuação dele é visceral, sensível e feroz. Deve ter sido uma pesquisa intensa — uma pegada quase Chadwick Boseman fazendo James Brown no filme Get On Up. É o tipo de entrega que transforma o corpo do ator em canal direto da alma do retratado.

Assistam. Não tem como sair ileso.

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