O Aprendiz – Era realmente necessário? || Resenha

Você está… DEMITIDO!

Convenhamos que cinebiografias, em geral, podem se tornar cansativas, já que o público, muitas vezes, não se interessa pela vida da pessoa retratada. Contudo, O Aprendiz me surpreendeu positivamente, pois pude ver como o jovem Donald Trump se tornou esse político tão controverso.

Com direção de Ali Abbasi, cineasta iraniano cujo portfólio inclui filmes que retratam monstros, como Holy Spider, Border e The Last of Us. Todas excelentes produções. No entanto, neste longa, ele não desumaniza necessariamente o ex-presidente dos Estados Unidos. Até a primeira metade da trama, sentimos certa empatia por ele, que parece apenas um garoto ingênuo, desprezado pela família.

A história se passa entre as décadas de 1970 e 1980, quando ele era apenas um jovem buscando atenção do pai, que o menosprezava no mercado imobiliário. Ele começou a trabalhar na empresa da família com o desejo de transformar Nova York em uma cidade gloriosa. No entanto, essa ambição logo se transforma na crença de que apenas ele poderia realizar essa transformação. Ao lado de Roy Cohn, um advogado cujas principais regras são: atacar, negar todas as acusações e nunca aceitar a derrota, ambos fazem de tudo para alcançar seus objetivos.

Claramente, o filme não trata da presidência de Trump, mas das consequências que o levaram a agir como conhecemos hoje. A primeira versão do protagonista que vemos é de um garoto ingênuo e sonhador, desacreditado pelo pai, querendo apenas trazer-lhe orgulho. No entanto, ele logo conhece Roy Cohn, a quem admira como um irmão mais velho, ganhando confiança suficiente para depois descartá-lo.

Uma cena marcante é a morte de Fred Trump Jr. O filme não mostra como ocorreu, mas podemos imaginar que tenha sido suicídio. Sentindo-se culpado pela morte do irmão, o protagonista sofre. Mesmo tentando esconder essa fragilidade, percebemos que ele não é tão cruel quanto parece.

A caracterização de Sebastian Stan está impecável. Quase não o reconheci como o Soldado Invernal. Sua atuação impressiona, inclusive no detalhe do biquinho do ex-presidente. Além disso, notamos a mudança repentina de comportamento. Já Jeremy Strong interpreta um personagem tão desprezível que nem consegue olhar nos olhos das pessoas. Por isso, não sentimos nada por ele.

A principal qualidade de O Aprendiz é saber a hora de parar. Todos sabem que Trump se tornou presidente dos Estados Unidos, o que pode gerar piadas. Contudo, o filme tem um objetivo claro, que cumpre muito bem: quando Trump consegue o que quer, o filme nos deixa uma reflexão sobre o cenário atual.

Por fim, O Aprendiz não será muito apreciado por Donald Trump, que já esteve envolvido em polêmicas relacionadas à trama. No entanto, o filme é interessante para entendermos suas motivações, embora nada justifique sua crueldade. Não é um filme para assistir repetidamente, mas todos deveriam vê-lo ao menos uma vez.