O Brutalista – “Turismo Arquitetônico” || Resenha

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Isso mesmo! O Brutalista não tem nada de brutal, além de deixar a gente bastante tempo “sentado”.

Tá mais para um turismo documental flertando com a arquitetura. E flerta daquele jeito contemplativo, longo e pausado, onde cada cena se estende, cada enquadramento parece uma fotografia, e cada detalhe da paisagem conta uma história. Esse filme é um tapa na cara do ritmo frenético das produções atuais e me jogou contra tudo que o século XXI me fez aceitar como “normal” no audiovisual. É uma experiência que remete às produções antigas, onde a cenografia, os closes nos rostos e até os espaços vazios sem diálogo são fundamentais para a narrativa.

O Brutalista || Hospício Nerd
Copyright Focus Features

E é aqui que começa o choque: um filme de três horas e meia!

A gente pensa: “Poxa, será que vai ter diálogo? Ação? O que vai sustentar isso tudo?”. E a resposta é: metade desse filme é pura transição de cenas. Planos longos de ruas, de prédios, de pessoas andando sem pressa. Algo que, no meu dia a dia, poderia me deixar inquieto e disperso, mas que aqui me fez refletir sobre como me acostumei a cortes rápidos e diálogos acelerados.

Hoje em dia, filmes mal nos deixam respirar entre um segundo e outro de transição, mas O Brutalista ousa segurar um enquadramento de rua por quase 30 segundos seguidos! Isso me colocou em conflito direto com o cinema atual, me obrigando a encarar uma narrativa diferente e mais contemplativa. E tudo isso embalado pelo contexto de um pós-Segunda Guerra Mundial, com perseguições a judeus refugiados e um protagonista talentoso tentando reconstruir sua vida nos Estados Unidos.

O filme tem um elenco grande, mas economiza bem na utilização dos personagens. Ele nos apresenta a chegada dos refugiados à América, o dilema de começar uma nova vida do zero, e faz isso sem precisar de grandes reviravoltas. O que importa não é só o que acontece, mas como isso é mostrado. A paleta de cores, o figurino, a ambientação—tudo é meticulosamente pensado para nos transportar para aquela época.

Teve um momento em que parei e pensei: “Será que deixei algo passar batido?”. Mas a verdade é que tudo ali tem um propósito, e a sensação é de que nada foi desperdiçado. Isso se estende até às transições, que não só reforçam a estética do filme, mas também nos dão um tempo para processar tudo.

O Brutalista || Hospício Nerd
Copyright Focus Features

E, falando em tempo…

O Brutalista faz um jogo muito interessante com a passagem dos anos. O filme nos mostra os personagens ao longo das décadas de uma forma muito sutil e orgânica—sem efeitos visuais chamativos, apenas com uma maquiagem impecável. Vemos uma adolescente crescendo, se tornando adulta, casada, mãe e, depois, mais velha, testemunhando os acontecimentos da família. O mesmo acontece com outros personagens: vemos o jovem, o adulto, o velho, o debilitado. Essa progressão é feita com tanto cuidado que nos faz refletir sobre como o tempo age sobre nós e sobre as estruturas que construímos. Isso porque a arquitetura, tema central do filme, nos lembra constantemente que nossas vidas são passageiras, enquanto os edifícios que erguemos podem durar séculos.

No fim, O Brutalista é uma experiência única, mas não para qualquer um. A verdade é que muita gente não vai ter paciência para sentar no cinema e apreciar essa obra, e eu entendo. Talvez ele funcionasse melhor como uma série de quatro episódios de 40 minutos, mas isso tiraria a imersão cinematográfica que o filme propõe. Eu daria uma nota 16 porque, mesmo longo e introspectivo, ele me fez refletir sobre o tempo, a arte, a transitoriedade da vida e o impacto das nossas criações. É um filme que te faz questionar se vale mais a pena admirar o que o homem constrói ou o que a natureza molda. Se você gosta desse tipo de provocação visual e narrativa, pode ser uma experiência incrível. Caso contrário, pode acabar sendo um grande teste de paciência.

Resenha por @henriquepheniato


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