Queer – Uma viagem para dentro, desejo e liberdade || Resenha
Se liga!!
Mais um daqueles bons filmes que parecem ser muito interessantes. Eu não procurei por sinopse, trailer ou qualquer coisa antes, fui direto ao cinema para ser surpreendido. Eu imaginava que seria algo como 007 em mais uma missão cheia de ação, mas fui pego de surpresa por um filme impactante, que exige uma preparação emocional. Normalmente, faço um tipo de ritual antes de ver esse tipo de filme – e por “esse tipo”, quero dizer “romance gay”. E que romance! Ficou muito legal, muito bem feito, mas teve umas cinco coisas que, pra mim, avacalharam o filme. Primeiro, a introdução: os créditos, que geralmente estão no final, foram jogados no início. Foram uns cinco minutos ou mais de créditos, e eu me senti o próprio Peter Griffin no cinema, achando que o filme estava rolando, mas eram só vinhetas de participação. Depois, teve aquele rolê de mostra de ensaio fotográfico de objetos, passando os slides com os nomes da galera do elenco e participações. Pra quê isso?
Tiveram dois erros técnicos que me incomodaram: um de corte e outro de continuidade. Primeiro, um figurante estava parado, olhando pro tempo, e do nada ele dá uma acenada esquisita e sai andando, atravessando a rua. Ficou tão nítido que foi forçado! Depois, tem uma cena em um bar onde um personagem está usando óculos. Ele tira os óculos para “enxergar melhor” um objeto – oi? Que sentido faz? E na sequência, filmam de costas e ele já está de óculos de novo, aí voltam pra frente e ele está sem. Essa bagunça incomodou muito. E tem mais: o filme se passa 90% no México, mas dá pra ver claramente o uso de croma key. Parecia tudo falso, e eu fiquei imaginando se foi de propósito, tipo uma provocação americana aos povos mexicanos.
Por outro lado, a fotografia é sensacional. A última vez que vi algo nesse nível foi em Parasita. O enquadramento, a narrativa visual, tudo muito bonito e bem feito. O filme também traz um olhar sobre si mesmo, uma jornada introspectiva que envolve a busca por um artefato psicodélico na América do Sul. Esse artefato é quase como um espelho, e o filme pergunta: “Você vai gostar do que vê ao se encarar?”. Isso tudo é explorado com muito movimento de corpo, quase dança contemporânea, e eu achei isso lindo. O romance entre os protagonistas é delicado, nada vulgar, com cenas de sexo feitas com tanto cuidado que são quase poéticas.
Agora, sobre o protagonista… Pra mim, ele vai ficar pra sempre fixado como James Bond (não lembro o nome do ator). Mas é tão bonito ver o personagem, um gay discreto e meio alcoólatra, se relacionando com outros homens. Tem aquela sutileza, o biquinho, os trejeitos. E o filme ainda explora o contexto de bares e boates, mostrando um recorte específico da comunidade gay, desde a “bicha escandalosa” até a “bicha quieta”. Foi muito rico ver esse universo. E, apesar de ser um romance, o filme também tem camadas de mistério. Quem é aquele personagem em silêncio? Qual é o desafio real? E a gente só descobre no final, mas, mesmo assim, fica na dúvida: isso tudo aconteceu ou foi uma viagem na cabeça dele?
No fim, Queer entrega quase tudo. É um filme que mexe com os sentidos, com a sonoplastia, o toque, os movimentos. É daqueles que, mesmo que você fosse cego, só de ouvir já sentiria algo. E, se fosse só visual, criaria respostas fisiológicas de tão intenso. Eu adorei essa experiência e fico curioso pra saber mais sobre o que o elenco e a equipe pensaram ao fazer o filme. Tem algumas pontas soltas no roteiro, e eu não acho que vai ter continuação, mas isso não tira o mérito de ser uma obra ousada e provocativa. Ah, e eu preciso falar… a bundinha do James Bond, meu Deus! Que visão.
Resenha por @HenriquePheniato