Ruptura: Temporada 2 e vários Eus || Resenha

Quem Merece viver? E quem dá as cartas?
A segunda temporada de Ruptura chegou, e temos aqui a melhor série de 2025, sem dúvida nenhuma a com o melhor roteiro e elenco.
Enredo e ganchos.
Acompanhamos a jornada de Mark S (Adam Scott), Irving (John Turturro), Helly (Britt Lower) e Dylan (Zach Cherry), funcionários da Lumon, empresa responsável pelo procedimento de ruptura. Esse procedimento separa a consciência humana em duas: a do “interno”, a pessoa no ambiente de trabalho, e a do “externo”, a pessoa fora dele. Mark e seus colegas de escritório desconhecem o mundo exterior e suas próprias vidas fora da Lumon. Eles apenas sabem que estão ali por decisão de seus “externos”. Da mesma forma, o “externo” ignora sua vida profissional, mantendo a consciência humana dividida.
O “externo” desfruta de uma vida tranquila, ciente de que os problemas de trabalho permanecem no trabalho, enquanto o “interno” só conhece o ambiente profissional.
Ao final da primeira temporada, o grupo de “internos” encontra uma forma de sair da Lumon. Nesse momento, Mark S (o “interno”) investiga a vida de seu “externo” e descobre que sua esposa, antes considerada morta, está viva e trabalhando na própria Lumon.
Ruptura: Apple TV +
Vários Eus.
A série expande o conceito de ruptura, explorando a possibilidade de fragmentar a vida em múltiplas consciências. Imagine dividir sua existência em várias partes: o ‘interno’ que encara tarefas árduas como ir ao dentista ou praticar exercícios, enquanto o ‘externo’ desfruta da tranquilidade. Essa divisão levanta uma questão crucial: quem tem o direito de viver plenamente? A morte de um ‘interno’ seria a aniquilação de uma consciência completa, uma versão autêntica de si mesmo.
Enquanto o Mark ‘interno’ se apaixona por Helly, o ‘externo’ luta para resgatar sua esposa, disposto a abandonar a Lumon. No entanto, essa decisão implica no desaparecimento do ‘interno’, um dilema que coloca dois eus em conflito. A atuação de Adam Scott é um espetáculo à parte, onde um olhar ou postura distingue o ‘interno’ do ‘externo’. A série nos desafia a questionar quem merece viver e por quê.
Ruptura: Apple TV +
Dan Erickson e Ben Stiller.
Na análise da primeira temporada, destaquei a direção de Ben Stiller, mas seria injusto não reconhecer a mente visionária por trás da série: Dan Erickson. Inspirado por suas experiências em escritórios e ambientes corporativos, Erickson criou um universo onde a sátira do mundo do trabalho é a espinha dorsal da narrativa. Em entrevistas, ele revela que a Lumon é uma versão levemente exagerada da realidade corporativa. A série utiliza essa paródia para sustentar seus argumentos, desde a celebração de metas triviais até a figura do chefe benevolente que prioriza os interesses da empresa. Os labirínticos corredores da Lumon, com suas salas de funções enigmáticas, transformam o local em um inferno branco.
A fusão do roteiro de Dan Erickson com a direção de Ben Stiller (e outros talentosos diretores) resulta em uma série repleta de mistérios, revelados no momento certo. Episódios que variam de 40 minutos a uma hora são meticulosamente construídos, utilizando cada segundo para impulsionar a narrativa. A série compartilha informações com o público no mesmo ritmo dos personagens, permitindo que exploremos o inferno branco da Lumon junto com Mark, Irving, Helly e Dylan. Dan Erickson criou uma série que exige precisão, tanto no roteiro quanto na direção e no elenco. Ele tece uma narrativa complexa, onde cada detalhe é cuidadosamente planejado. Enquanto acompanhamos os personagens em sua jornada, ele já prepara as revelações futuras, pavimentando o caminho com pistas e perguntas intrigantes. A primeira temporada nos confronta com a decisão da ruptura, enquanto a segunda aprofunda a questão da identidade:
Quem merece viver, o ‘externo’ ou o ‘interno’?
Não se esqueça de seguir o Hospício Nerd no Instagram
Texto por: David Alves