The Boys: Loucura e na Fazendinha || Resenha COM SPOILER.

O sol já nasceu lá na fazendinha, morreu o bezerro e a vaquinha.

O episódio cinco da nova temporada de The Boys trouxe discussões sobre paternidade, responsabilidade e evolução, além das bizarrices.

O episódio cinco de The Boys mostra como é possível desenvolver personagens enquanto conta a história e não deixa a peteca cair, especialmente pela parte com o Hughie.

Karl Urban em The Boys

Reprodução The Boys: Amazon Prime Video

The Boys na Fazendinha

Os garotos libertam Stan Edgar da prisão para que ele ajude com a Victoria, sabendo que ela é a única com o vírus que mata supers, escondido na fazenda onde ela morava. O grande problema são as aventuras na fazendinha, pois o aparente marido dela inseriu composto V nos animais, tornando-os zumbis. Não da maneira que conhecemos, mas desenvolveram uma violência sórdida que, se você conhece The Boys, nem se surpreende mais. Mesmo assim, quem conhece ainda se diverte com as cenas de violência porque é nesse núcleo que percebemos alguns probleminhas.

A Kimiko ainda consegue sustentar sua participação no carisma da atriz, mas não dá para dizer o mesmo do francês. Por mais que suas habilidades sejam úteis, ele está tirando tempo de tela de outros personagens que merecem mais atenção. Ele, enquanto personagem, não parece ter mais a agregar ao panorama total, e por isso sua história de traumas do passado parece tão jogada na trama. Enquanto isso, personagens como Stan Edgar (Giancarlo Esposito) enchem a tela com o pouco que temos dele de volta, sustentando o pouco de roteiro que essa parte tem só no olhar, especialmente nos diálogos com a Victoria. No geral, ele também não agregou muito, e sua aparição foi quase gratuita. Se Bruto e os garotos têm uma rede tão grande de contatos, eles poderiam muito bem achar o local onde Victoria esconde o vírus sem o Edgar.

Essa parte só serviu para mostrar que Bruto continua bilu teteia da cabeça. Foco aqui no momento em que ele solta um coelho da gaiola e recebe um olhar de aprovação fofo da Kimiko. Na cena seguinte, ele vê o bichinho morrendo por causa do composto V injetado nele e percebe que isso vai acontecer com ele mais cedo ou mais tarde. Quando um verme nojento sai de dentro do coelho, Bruto entende seu futuro. Ainda fica a dúvida se ele tem poderes; no episódio anterior, a mente dele desligou por um momento e, quando voltou à razão, ele tinha matado o Ezekiel sem perceber.

O episódio acaba com ele sequestrando o suposto marido da Victoria e forçando-o a criar um novo vírus. E aqui temos mais um detalhe que já mencionamos nos primeiros episódios: o personagem de Jeffrey Dean Morgan, Joe Kessler, só aparece quando Bruto está sozinho. No final, o cientista sequestrado parece olhar com medo, não por achar que ele é maluco (na verdade, também), mas por não entender com quem Bruto está falando. Os momentos de insanidade violenta dele aparecem na presença de Joe Kessler, como um monstro interno dele. Nesse episódio, falamos muito de evolução; ele pode não ser o monstro que era antes de conhecer Hughie, mas com Joe ao seu lado, Bruto está se forçando a voltar a ser o carniceiro que foi um dia.

The Boys: Amazon Prime Video

Fonte: X @Voughtintl.

Capitão Pátria, Desconfiança e Poder

No núcleo dos Supers, está acontecendo o evento da Vought, que faz uma paródia especialmente com a Disney, anunciando as novas fases de filmes dos Sete. É uma sátira completa ao que virou o mundo nerd no geral, com a galera gritando de excitação por um logotipo de um filme que será lançado daqui a cinco ou dez anos, com centenas de pessoas fantasiadas de seus heróis favoritos sem saber que eles, na verdade, são apenas um produto.

Ryan começa a descobrir os benefícios de ter poder nas mãos, tudo o que Bruto tanto temia. Agora que Capitão Pátria lhe ensinou que ele tem a liberdade que quiser por ser um deus entre mortais, fica aqui a influência paterna que o episódio também aborda. Bruto desejou e ainda deseja trazer uma influência positiva para Ryan, que está confuso diante das jogadas de Pátria. Leitinho percebe que também tem uma influência negativa sobre sua filha; o personagem também não tem feito nada de relevante na temporada, entretanto, esse confronto com a filha serve para elucidar melhor as questões.

Dois personagens que estão crescendo muito e se provando muito interessantes são Trem Bala e Ashley. Ambos estão de saco cheio da Vought, mas são reféns do Capitão Pátria e agora também da Mana Sábia, que obviamente sabe que Trem Bala é o delator, mas como não tem provas, só pode esperar ele tropeçar e cair nas próprias mentiras, forçando-o a se aliar com Ashley.

Ashley assumiu o poder na Vought muito subitamente e não pode negar seu cargo, e, uma vez aceito, não pode sair dele. Uma pessoa que sabe tantos segredos da Vought não teria segurança nenhuma se saísse da empresa, sendo um alvo tanto para o governo e os garotos quanto até para os Supers. Desde a primeira temporada, vemos Capitão Pátria apagando os podres da empresa, matando todos que estão envolvidos ou contra a Vought. Ashley tinha poder; mesmo que pouco, ela tinha seus momentos de fetiche de poder com um cara que a abandonou no primeiro momento em que ela perdeu o poder que tinha lá dentro. Mas Ashley não pode e não quer sair por baixo nessa situação, e coloca esse mesmo cara como delator, o que livra Trem Bala por um tempo. Mas os olhares de julgamento da Mana Sábia continuam.

 The Boys: Amazon Prime Video 

Reprodução The Boys: Amazon Prime Video

A Evolução de Hughie

Eu não vou considerar esse episódio filler, como muitos estão chamando, porque ele faz algo que outras séries não fazem ou têm preguiça de fazer: desenvolver os personagens mostrando a interação deles e colocando-os em situações que já passaram, mas cujos atos mudam, e Hughie provou isso aqui.

O pai de Hughie está morrendo, e isso forçou-o a buscar composto V, mas no final quem faz isso é sua mãe. O problema é que o soro já tem um efeito negativo em pessoas saudáveis, então imagine o estrago que o composto faz em alguém que teve um AVC. A recuperação dele foi muito rápida, mas não demorou para a mente dele colapsar e mostrar estar enfraquecida, quase um estado de Alzheimer muito avançado, onde a memória dele vem e vai o tempo todo. Misture isso com o fato de que ele desenvolve poderes que não pode controlar e causou uma chacina no hospital.

Esse núcleo é dividido entre o surto de violência, seguido pelo olhar de dor que Simon Pegg entrega muito bem, e Jack Quaid não fica atrás. Hughie pode ter sido o protagonista de The Boys, agora nem tanto, mas uma coisa é inegável: a essência do personagem permanece, mas ele mudou e não foi pouco.

Primeiro, temos a atitude de Hughie quando seu pai sai pelo hospital causando um banho de sangue. Se lembrarmos que quando ele perdeu a namorada lá na primeira temporada, ele sentiu um misto de tristeza e ódio que ocasionou na morte do Translúcido, além do desespero no meio do caos. O personagem surtava quando tinha e, se não fosse Bruto e os garotos, teria morrido dezenas de vezes por simplesmente não saber agir sob pressão. Quando a mãe dele se desespera e estranha como Hughie está tão calmo, ele simplesmente fala que isso virou quase rotina na vida dele, uma frieza que aprendeu com os garotos, sem abandonar sua essência de acreditar no outro, de baixar os escudos e agir como um humano em um mundo cego pelo poder.

O pai de Hughie menciona como, no passado, o garoto adorava os heróis da Vought, o que mostra outra evolução.

Se não fosse os garotos, muito provavelmente ele ainda seria um fã desses heróis e estaria naquela convenção da Vought fazendo cosplay no meio de outros nerds, sem nem imaginar que aquilo é uma ilusão feita pelo mercado. E se no passado o garoto não quis deixar o pai sacrificar um animal doente, agora ele precisa enfrentar a bagunça que ele mesmo foi atrás e sacrificar seu pai usando os conhecimentos que herdou do francês. Mais uma vez, sem agir como Bruto e partir para a violência como única solução, ou fugir como faria no passado. Ele enfrenta a situação como ele faria, mas mantendo o controle e a calma de alguém que passou por coisas piores. Dá para enxergar as engrenagens da mente dele funcionando na maior velocidade até soltar fumaça.

Não bastasse um super atrás dele e da mãe, esse super ainda é o pai dele que está sem controle. Ele não pensa como um humano e entende que precisava fazer uma tarefa difícil. No meio das lágrimas, Hughie sacrifica o pai e garante um adeus mais pacífico, doloroso, mas pacífico.

The Boys continua tirando sarro do universo do qual se inspirou, mostrando que não se baseia só em pautas políticas, mas também criticando o universo nerd que permitiu que séries como ela existissem. Mesmo assim, não livrando os personagens de uma constante evolução, mas também caindo na armadilha de seguir com personagens que não agregam mais à história, sem os quais a trama não mudaria nada. Enquanto isso, outros personagens estão sempre nas sombras. Mas esses são apenas alguns pontos negativos que The Boys tem. O saldo até agora continua sendo bem positivo.

A quarta temporada de The Boys tem um novo episódio toda quinta-feira na Amazon Prime Video.

 

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Texto por: David Alves 

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