Top 10 – Franquia Halloween!
Myers rules!
Para celebrar O Especial “Halloween” que o Hospício In Dead está fazendo sobre a Saga, listamos aqui os 10 melhores filmes da série.
por Guilherme Sander
O primeiro filme da série “Halloween” foi lançado nos cinemas em 1978. Não foi um sucesso instantâneo. Dirigido por John Carpenter a partir do seu roteiro, escrito com Debra Hill, custou apenas 300 mil dólares e trouxe a iniciante Jamie Lee Curtis no papel que a consagrou e lhe deu o título eterno de Rainha do Grito.
Por décadas foi o filme independente de maior arrecadação em bilheterias, até que “A Bruxa de Blair” lhe tirou do trono. Foram USS55 milhões arrecadados apenas com a divulgação boca a boca. Não havia internet e nem marketing de peso, na época. Foram meses até que o filme se consolidasse e fizesse carreira, tornando-se um clássico imortalizado do subgênero Slasher Film.
Jamie Lee Curtis como Laurie Strode, no clássico “Halloween” de 1978. Imagem: Divulgação.
De lá para cá foram 11 filmes realizados entre 1978 e 2018. Com exceção do terceiro exemplar da série, que traz uma trama sem o assassino Michael Myers ( o objetivo era tornar a série uma antologia, após o segundo filme), vamos ao ranking listando do pior para o melhor filme:
10 – Halloween 2 (2009) Dirigido por Rob Zombie
O vilão Michael Myers, em cena do filme “Halloween 2” (2009), sequência do remake “Halloween: O Início” (2007). Imagem: Divulgação.
Eu poderia escrever uma coluna especial só para enumerar as razões que fazem dos filmes da série, dirigidos por Rob Zombie, serem tão ruins. O principal deles é que não é o Michael Myers imortalizado nos filmes da série original. Na era dos reboots e remakes, Halloween 2 é a sequência direta do remake dirigido pelo mesmo. Traz um elenco excelente reprisando seus papeis do primeiro filme, sendo mal aproveitados em um roteiro recheado de palavrões e composto por uma estética de extremo mau gosto.
Na trama temos Laurie, interpretada por Scout Taylor Compton, reprisando o papel após “Halloween: O Início” de 2007, lidando com o trauma de ser a irmã do assassino em série Michael Myers, que assassinou a sua família biológica e anos mais tarde, os pais adotivos. Michael, interpretado aqui por Tyler Mane ( o Tigre Dentes de Sabre, de “X-men”), serve como um andarilho sem rumo, de barba grande, cabelos longos e uma jaqueta suja, vendo o fantasma da mãe biológica ao lado de um cavalo branco, incitando-o a voltar a matar.
Nem tudo é ruim, confesso. Os primeiros vinte minutos da projeção trazem uma sequência direta do final do primeiro filme, eletrizante e brutal. Mas não se iludam – é tudo sonho da personagem principal. Daí pra frente, a ladeira é grande e o tombo certeiro. Nada se salva e até o personagem ilustre do Dr. Loomis, aqui interpretado por Malcom McDowell (Laranja Mecânica), se torna piada. Nota: 0 (sem dó)
09 – Halloween: O Início (2007) Dirigido por Rob Zombie
Tyler Mane, encarnando o assassino psicopata Michael Myers, na versão re-imaginada por Rob Zombie, em 2007. Imagem: Divulgação.
Logo em seguida, eu diria que no mesmo patamar, eis o primeiro assassinato do músico aventureiro a cineasta, Rob Zombie, no remake do clássico “Halloween” de 1978. Qualquer pessoa com ousadia o suficiente para reinventar o clássico, já teria sua sanidade questionada. Mas Rob não se intimidou e dizia querer mostrar sua reinterpretação da história, imortalizada no Cinema.
O resultado não poderia ser pior. Metade do filme é utilizado para essa reinvenção, só para depois refazer os passos do original, só que de forma inferior. Vemos um Michael Myers como membro de uma família desestruturada (o que foi usado como justificativa para seu comportamento psicopata). Ele passa horas dentro do quarto escutando rock pesado e torturando animaizinhos. Sua mãe stripper é casada com um padrasto abusivo; sua irmã mais velha o maltrata; a filha mais nova, ainda bebê, é mal cuidada e todos, incluindo o médico renomado Dr. Samuel Loomis (que no clássico é uma autoridade acerca da Psiquiatria, com discursos articulados e embasados), falam 10 palavrões em cada frase.
No elenco, temos nomes de peso: Brad Douriff (conhecido por dar voz ao boneco Chucky na série “Brinquedo Assassino”) faz o Xerife Brackett; Danielle Harris (uma velha conhecida da série, que interpretara Jamie Loyde em “Halloween 4” e “Halloween 5”) volta aqui, como Annie Brackett, melhor amiga de Laurie Strode; Malcom MacDowell como o médico Dr. Samuel Loomis (irritante e egocêntrico); e o nepotismo descarado ao escalar Sheri Moon Zombie (esposa de Rob Zombie, o diretor) como a mãe stripper de Michael Myers, longe de conseguir explorar a profundidade de sua personagem.
Os personagens são tão desprovidos de carisma, que quando são assassinados por Michael, descobrimos que estávamos torcendo a todo o momento para que ele o fizesse. E assim, o vilão, antes visto como encarnação do puro mal, aqui recebe o tratamento de vítima das circunstâncias e do cenário onde foi criado. Broxante. Nota: 0.
08 – Halloween: Ressurreição (2002) Dirigido por Rick Rosenthal
Jamie Lee Curtis reprisando o papel de Laurie Strode, pela quarta vez, no péssimo “Halloween: Ressurreição” de 2002. Imagem: Divulgação.
Após “Halloween H20: Vinte Anos Depois” (1998), que trouxe a personagem Laurie Strode de volta em um embate com seu algoz, Michael Myers, celebrando os 20 anos da franquia com estilo, temos aqui sua continuação direta. Nas mãos de Rick Rosenthal (que já dirigira a sequência “Halloween 2: O Pesadelo Continua”, de 1981), o diretor volta a série menos inspirado. Bem menos inspirado, preciso dizer.
O filme todo só vale pelos 15 minutos iniciais. O resto é uma tortura física e psicológica de se manter na frente da tela tentando assistir até o final. A abertura traz o embate, até então final, entre Michael e Laurie. Seria excelente se o filme todo se passasse nesse cenário – até como forma de celebrar a sequência de 1981 que se passa também em um Hospital. Mas Jamie Lee Curtis só regressou ao papel por exigência contratual e é visível que seu desempenho é por puro profissionalismo. Provavelmente, seu tempo de tela foi curto por exigência da própria atriz.
A trama é ridícula: Michael Myers, após uma visita ao sanatório onde sua irmã esteve internada nos últimos 3 anos (e de ter sua sobrevivência explicada com flashbacks que recontam o final do filme anterior), retorna a sua antiga casa – onde assassinou sua irmã mais velha, em 1963 – e encontra com participantes de um Reality Show que devem passar uma noite na famosa casa abandonada. Parece brincadeira, não é? Mas não é! Nota: 2 (só pelo início e pela trilha sonora – que é a melhor da série, após a trilha do filme original).
07 – Halloween 5: A Vingança de Michael Myers (1989) Dirigido por Dominique Othenin-Girard
Donald Pleasence como Dr. Loomis, frente a frente com seu antigo paciente, Michael Myers em “Halloween 5” (1989). Imagem: Divulgação.
Por onde começar a descrever a bagunça que se tornou essa sequência? Esse foi realizado as pressas, após o sucesso do anterior, “Halloween 4: O Retorno de Michael Myers” (1988), que apresentou a nova vítima, a pequena Jamie Loyd. Como sobrinha do assassino Michael Myers, ela é perseguida pelo tio em mais um Dia das Bruxas. “Halloween 5: A Vingança de Michael Myers” foi lançado menos de um ano depois de seu antecessor, em 1989.
Tão pouco tempo de produção para um lançamento apressado é nítido na qualidade do filme. A sobrevivência de Michael é explicada de maneira absurda, deixando-o ser cuidado por um mendigo – isso mesmo, não escrevi errado – por quase um ano até que ele fosse morto nas mãos do assassino em série. E é engraçado que, de uma hora para outra, a máscara de Michael muda de aspecto e parece conter um elefante debaixo dela.
Jamie, após o final do último filme, é internada em um hospital psiquiátrico e é observada pelo médico Dr. Loomis (uma comparação óbvia com a relação dele com o próprio Michael, no original). Mas a ideia de transformá-la em uma assassina, assim como foi seu tio, não foi pra frente. No lugar, temos um Slasher Film genérico que não empolga em momento algum e ainda traz um final absurdo. Nota: 2,5 (apenas porque Danielle Harris, que interpreta Jamie e Donald Pleasence, que interpreta o Dr. Loomis, agradam até quando precisam recitar diálogos de péssima qualidade).
06 – Halloween 6: A Maldição de Michael Myers (1995) Dirigido por Joe Chappelle
Paul Rudd como Tommy Doyle e Donald Pleasence como Dr. Loomis em “Halloween 6”, de 1995. Imagem: Divulgação.
Se teve uma pessoa responsável pela existência da série ao longo dos anos, esse alguém é Moustapha Akkad, produtor executivo da série. Após o fracasso catastrófico e justificável do quinto filme, foram necessários 6 anos para algum estúdio colocar fé em mais uma história do assassino mascarado. E não adiantou nada. O resultado só não é pior do que seu antecessor.
O filme é estrelado novamente por Donald Pleasence como o Dr. Loomis (pouco tempo antes do ator falecer e se despedir da série) e Paul Rudd, em início de carreira, como o sobrevivente do primeiro filme, Tommy Doyle. Aqui, temos uma seita que protege Michael Myers e o coloca no rastro da família Strode mais uma vez, ao mesmo tempo que persegue o bebê recém-nascido de Jamie Loyd (aqui, não mais interpretada por Danielle Harris), até então dada como desaparecida. Resgatado por Tommy, poucas horas depois da morte da mãe, ele é o novo alvo principal do assassino. Parece confuso? E é!
A produção foi conturbada. Tanto que existe um corte feito pelos produtores, cuja trama e desfecho dos personagens são diferentes. Os fãs pedem, até hoje, por um lançamento oficial, mas o máximo que é possível encontrar é uma cópia ilegal em arquivo de torrent. A versão dos produtores é melhor – mas não faz milagre. Nota: 3 (especialmente pela interpretação, mais uma vez, de Donald Pleasence, que sempre trouxe vigor para seu personagem ao longo dos anos e pelo bom desempenho de Paul Rudd, como o traumatizado Tommy Doyle).
05 – Halloween 4: O Retorno de Michael Myers (1988) Dirigido por Dwight H. Little
Danielle Harris como a pequena Jamie Loyd em “Halloween 4” de 1988. Imagem: Divulgação.
Aqui, o cenário começa a melhorar para a série. Não é um clássico e nem inova em fórmula e roteiro, mas entretém. Após “Halloween 2: O Pesadelo Continua” (1981), última aparição do vilão Michael Myers, a missão aqui é trazê-lo de volta a vida no ano em que o original completava 10 anos de seu lançamento. Mas de todos os envolvidos, só o produtor executivo Moustapha Akkad retornou.
Jamie Lee Curtis estava mais interessada em outros papéis, após anos dedicando sua carreira aos filmes de terror. John Carpenter e Debra Hill também se recusaram a se envolverem na nova produção. A solução foi dar sequência a história sem a participação dos mesmos. O roteiro então, apresenta Jamie Loyd como filha da personagem de Laurie Strode, que teria morrido em um acidente de carro, deixando a menina órfã. A garotinha é adotada por uma família de Haddonfield, cidade onde a história sempre se passa e vive assombrada pela imagem do tio assassino.
Michael Myers, por sua vez, passou os últimos dez anos internado em um Hospital de segurança máxima, após a conclusão do segundo filme (que o tinha dado como morto). Descobrimos que seu corpo carbonizado se encontra em estado vegetativo, até que resolvem transferi-lo de unidade, de forma bem oportuna, na véspera do Dia das Bruxas. Alguma dúvida de que ele escapa e volta para Haddonfield em busca de sua sobrinha?
É isso. Não é nada inovador, mas a atmosfera de suspense e terror aqui é construída de forma mais eficiente. Além da revelação da atriz mirim Danielle Harris, que ganhou o título de queridinha da série nos anos seguintes; temos a volta de Donald Pleasence, excelente mais uma vez no papel do Dr. Loomis; e o carisma de Ellie Cornel, como a irmã adotiva de Jamie, Rachel Corrunthers. A dinâmica entre as duas é excelente. O elenco secundário também não desaponta e o final é uma grande homenagem ao original. Nota 6 (na média).
04 – Halloween 2: O Pesadelo Continua (1981) Dirigido por Rick Rosenthal
Laurie Strode de cara com o perigo em “Halloween 2: O Pesadelo Continua”, de 1981. Imagem: Divulgação.
Eu, particularmente, não gosto do trabalho de Rick Rosenthal por motivos técnicos. Após o sucesso do original, não era de se espantar que executivos de Hollywood iriam tentar transformar a série em uma galinha dos ovos de ouro. E assim o fizeram com a sequência direta do original, que de forma bem surpreendente, retoma a ação na mesma noite em que o primeiro filme termina. Isso mesmo. O filme se passa na mesma noite, em sua totalidade. Só isso já faz ele ganhar vários pontos na contagem dessa lista.
John Carpenter e Debra Hill quiseram limitar sua participação apenas a produção e roteiro. E a ideia era acabar de vez com o arco dramático de Michael Myers e Laurie Strode, revelando que ela não foi apenas uma vítima aleatória do assassino, mas é, na verdade, sua irmã mais nova, até então desconhecida. Outro golpe de mestre do roteiro.
Uma curiosidade da produção é que, enquanto filmavam “Halloween 2”, a equipe gravou cenas adicionais para o original em sua versão a ser exibida em televisão aberta, nos Estados Unidos (é possível encontrar essa versão na internet). As cenas gravadas ligavam Laurie a Michael, para embasar sua conexão familiar e preencher os minutos cortados de “Halloween”, pela censura, em cenas que continham uso de drogas, nudez e sexo.
O que compromete o resultado final de “Halloween 2” é a direção fraca de Rick. As cenas de perseguição, porém bem escritas, são mal executadas, com trilha sonora entrando na hora errada e falta de tensão criada pela edição e direção de elenco; falta empolgação na performance de Jamie Lee Curtis, que aqui parece pouco à vontade no papel que desempenhou tão bem em outras oportunidades; e cenas longas de mortes de personagens secundários, que parecem feitas para preencher o tempo de duração do filme. O destaque, mais uma vez é Donald Pleasence, excelente e mais voraz como o Dr. Loomis. Além disso, temos uma movimentação da população de Haddonfield, reagindo às notícias dos assassinatos brutais descritos no primeiro filme – algo que o novo “Halloween Kills” deverá explorar em um grau bem mais elevado. Nota: 6,5.
03 – Halloween H20: Vinte Anos Depois (1998) Dirigido por Steve Miner
Laurie Strode, cara a cara pela primeira vez em 20 anos, com Michael Myers. Imagem: Divulgação.
Eu entendo que muitos dirão que minha escolha é polêmica para ocupar o pódio da série. “Halloween H20”, ainda foi uma decepção para muitos fãs e eu não vou me excluir desse grupo. Como fã do original, quando esse novo filme foi anunciado, eu não conseguia contar os dias até sua estreia. Após o sucesso de “Pânico” (1996), dirigido por Wes Craven, reinventar a fórmula dos Slasher Films e renovar o interesse pelos filmes do gênero, os produtores de “Halloween” quiseram logo trazer Michael de volta. Mas dessa vez, comemorando os 20 anos do lançamento do original, trazendo Jamie Lee Curtis de volta ao papel de Laurie Strode e, também, o diretor do original, John Carpenter.
A ideia inicial, era um embate emblemático entre os dois personagens, em um filme que se chamaria “Halloween: A Vingança de Laurie Strode”, que manteria toda a continuidade da série e ligaria os 6 filmes anteriores. Mas praticamente tudo mudou de figura e o que fizeram foi um pastiche dos exemplares dos Slasher Films que eram lançados no fim da década de 90, pegando carona no sucesso de “Pânico”. E, assim, a vingança de Laurie se resumiu apenas aos minutos finais – é inegável que fica uma sensação de ter faltado algo em seus apressados 90 minutos de duração.
Com a mudança de enredo, John Carpenter deixou a produção e Jamie Lee Curtis só aceitou permanecer com a condição de que Michael seria morto ao final do filme, sem nenhuma cena adicional apontando para sua sobrevivência. Cabe aqui revelar uma curiosidade: as cenas que descrevem a forma como Michael sobreviveu para a sequência “Halloween: Ressurreição” foram filmadas durante a produção de “Halloween H20”, porém impedidas pela própria Jamie de serem utilizadas antes de uma possível sequência. Só assim ela desistiu de deixar o projeto poucas semanas antes de seu início.
Na trama, todos os filmes após “Halloween 2” (1981) são desconsiderados e Laurie Strode entra para o programa de proteção as testemunhas, onde finge sua morte e assume a identidade de Kery Tate, uma diretora de um Colégio em regime de Internato para jovens estudantes, isolado no Norte da Califórnia. Grande destaque vai para a cena de abertura, que traz a veterana da série Nancy Stephens, reprisando seu papel como a enfermeira Marion Chambers e como Michael localiza o paradeiro de sua irmã após 20 anos. Outro, é lógico, é a luta entre os dois personagens principais, Michael e Laurie, nos minutos finais. Só peca pela curta duração. Poderiam explorar em alguns minutos a mais, uma vez que grande parte do filme é utilizada para construir a tensão do reencontro entre os dois.
Um contra notável que poucos podem perceber, é que a trilha sonora original produzida para o filme foi descartada pelo estúdio, por ser sombria demais. A trilha utilizada então foi emprestada do filme “Pânico”, em uma tentativa descarada de deixa-lo mais a cara da nova geração, ávida pelos filmes do gênero da época. Nota: 7.
2 – Halloween (2018) Dirigido por David Gordon Green
O hype para um novo filme da série “Halloween” foi construído com precisão. Primeiro, a Blumhouse Productions adquiriu os direitos da franquia, da extinta Dimension Films. Em seguida, anunciou que um novo filme, com a direção de David Gordon Green seria feito. Assim que tiveram a benção de público e mídia, Jamie Lee Curtis em pessoa anuncia seu retorno postando uma foto emblemática que a conecta 40 anos depois aos eventos do primeiro filme, com a legenda: “Mesma varanda. Mesmas roupas. Mesmos dilemas. 40 anos depois. Retornando a Haddonfield, por uma última vez, para o Halloween.”
“Mesma varanda. Mesmas roupas. Mesmos dilemas. 40 anos depois”. Imagem: Divulgação.
David Gordon Green soube aproveitar as oportunidades e tratou de desconsiderar todos os filmes da série depois do original, refazendo o storyline da franquia e simplificando para uma nova geração e para quem nunca foi impactado pelo “Halloween” de 1978. Tratou de construir a trama dos sonhos de Jamie Lee Curtis e John Carpenter, garantindo seu retorno e ainda sua criação da trilha sonora.
O filme é um grande fan service. Os créditos iniciais possuem a mesma estética e trilha do original. As referências a ele estão lá, o tempo todo. Arrisca em alguns momentos, mas não inova e nem desaponta também. Quem rouba a cena mais uma vez é Jamie Lee Curtis, em uma roupagem digna de uma Tenente Ellen Ripley, da série “Alien”, ou Sarah Connor, de “O Exterminador do Futuro”, dando força, agressividade e trauma a sua personagem. Parece que é o embate que queríamos ver e que nunca aconteceu de forma apropriada em “Halloween H20” e traz novos personagens secundários que não servem apenas como vítimas de Michael, mas colaboram na profundidade da trama.
Jamie Lee Curtis em “Halloween” de 2018. Imagem: Divulgação.
Nela, Michael não poupa ninguém e a sensação que fica é que qualquer um que cruzar seu caminho pode morrer. Temos o puro mal descrito no primeiro filme de volta e ainda mais violento. O embate final é épico e tanto fecha o arco dos personagens, como deixa aberto caso uma sequência se tornasse financeiramente possível. O sucesso de mídia e público deixaram claro que se tinha espaço pra ampliar a história, e ainda grande potencial.
Mas perde ponto, em minha opinião, pelo péssimo desempenho de Andy Matichack como Allyson, neta de Laurie e por desconsiderar os eventos de “Halloween 2”, de 1981. Com isso, Laurie não é mais irmã de Michael e a ligação dos dois é explicada como antagonistas pelos traumas vividos. Apesar do diretor David Gordon Green ter tomado tal decisão para manter a história simples, objetiva e direta; é uma pena os personagens perderem essa ligação forte que tornava o conflito ainda mais perturbador. Nota: 9
01 – Halloween: A Noite do Terror (1978), Dirigido por John Carpenter
A espreita, o assassino Michael Myers, seguindo suas vítimas em “Halloween: A Noite do Terror”, de 1978. Imagem: Divulgação.
Não é surpresa nenhuma que o original lançado em 1978 ocupe o primeiro lugar nessa lista. Os motivos são inúmeros:
“Halloween” não assusta pelo que mostra, mas pelo que intenciona; o que esconde. É o Bicho Papão escondido nas sombras, nos arbustos, espreitando a todo minuto, aguardando o momento melhor para atacar; em uma comunidade pacífica em que os maiores delitos cometidos, são jovens estudantes roubando máscaras em uma loja de fantasias para o Dia das Bruxas.
Em 1978, o medo de acontecer algo assim, em uma comunidade como Haddonfield é descrita, é real. Os personagens retratados são de fáceis identificação. Se parecem com qualquer adolescente da época, procurando diversão nas drogas, no sexo e no álcool, ou cuidando de crianças como babás e aproveitando a ausência dos responsáveis para aprontarem suas pequenas contravenções. Tudo muito comum, então como não acreditar que algo assim pudesse acontecer?
A falta de recursos financeiros para a produção independente, colaborou na construção do clima de tensão e suspense. John Carpenter aproveita da luz e sombra pontualmente e faz movimentos de câmera simples de forma eficiente: uma hora o assassino está a espreita observando a vítima e, no movimento seguinte, ele desaparece – ou o contrário. A cena de abertura, toda realizada em plano sequência, em primeira pessoa, é chocante em sua simplicidade e conclusão. A trilha sonora, composta pelo próprio Carpenter, é tão marcante que até hoje é um símbolo da série. Aposto que muitos a conhecem, até mesmo, sem terem visto a qualquer um dos filmes.
Jamie Lee Curtis, em seu primeiro papel, foi escolhida pelo parentesco com Janeth Leigh, a musa de Alfred Hitchcock, que morre na emblemática cena do chuveiro, em “Psicose”. São mãe e filha. Não é coincidência que ela ganhou o título de Rainha do Grito, que sustenta até os dias de hoje.
Na trama, o jovem Michael Myers assassina sua irmã mais velha e é enviado a um Sanatório de segurança mínima. Apenas seu Médico Psiquiatra, Dr. Loomis, acredita que ele seja a pura encarnação do mal e que deve ser contido com mais segurança até o fim de seus dias. Até que, em uma noite, Michael foge e retorna a Haddonfield, perseguindo jovens que trabalhavam de baby sitter, na noite de Halloween.
O elenco todo é excelente. Os personagens ganham carisma e profundidade nos diálogos corriqueiros e nas interpretações de Jamie Lee Curtis como Laurie Strode; P.J. Soles como Linda; Nancy Loomis como Annie Brackett; e as crianças Kyle Richards como Lindsay Wallace e Brian Andrews como Tommy Doyle.
O destaque ainda vai para a caracterização do assassino Michael Myers. Sempre na penumbra, seu rosto após adulto só é mostrado ao final (sendo a única vez que o vemos em qualquer um dos filmes). Usando um macacão de mecânico velho e uma máscara branca, sem expressões, com os olhos escuros, o roteiro o descreve como “A Forma”, como se não fosse humano e sua silhueta lembra a de um fantasma, sendo vazio de emoções por dentro. Só escutamos a sua respiração por debaixo da máscara pálida. Nota 10.
Guilherme Sander escreveu em 2007, o artigo científico sobre o filme Halloween, de John Carpenter, sobre como o Cinema de Horror e seu subgênero Slasher Film construíram alegorias para o comportamento de uma sociedade amedrontada, refletindo fobias sociais de uma comunidade conservadora.