Youth of May (A Juventude de Maio) – Um drama para amantes de boas histórias e corações fortes || Resenha (COM SPOILERS)
Vamos falar de doramas?
E antes de começar a ler, fique atento porque tem spoiler e conteúdo sensível, ta?
Eu escolhi Youth of May (A Juventude de Maio) porque acho um drama pouco falado, mas que merecia muito. É, sem dúvidas, o K-drama mais forte que assisti em 2021 e está entre os meus preferidos. Por se tratar de um tema importante (e infelizmente atual) e ter uma produção cuidadosa, deveria estar em outros streamings, não apenas no Viki. Escrito por Lee Kang e dirigido por Song Min-yeop, a série tem 1 temporada com 12 episódios e traz Lee Do-hyun (Sweet Home) e Go Min-sin (Sweet Home) nos papeis principais.
Do que trata Youth of May?
Sinopse do Viki: Hee Tae torna-se o orgulho de Gwangju quando entra na Faculdade de Medicina da Universidade Nacional de Seul com excelentes notas. Seu melhor amigo, Kyung Soo, um ávido ativista pró-democracia, insiste para que eles abram uma clínica ilegal para os estudantes que estão fugindo do governo. Certo dia, um operário é ferido durante um protesto. Para pagar pelo transporte furtivo dele e do operário até sua cidade natal, Hee Tae deve comparecer a uma reunião com um potencial cônjuge arranjada por seu pai.
Nessa reunião, Hee Tae conhece Myung Hee, uma enfermeira que luta contra as agruras da vida. Ela só concorda em comparecer à reunião no lugar de sua amiga, Soo Ryeon, porque precisa do dinheiro para ir estudar na Alemanha. Contudo, Myung Hee e Hee Tae acabam apaixonando-se. Em maio de 1980, entre a intensa paixão e o clamor pela democracia que reverberou por Gwangju, Hee Tae e Myung Hee encontram-se no meio de uma reviravolta do destino.
Além da Sinopse
Eu gosto de assistir a séries e filmes com bons roteiros, não necessariamente com finais felizes. E por isso, Youth of May é um K-drama impressionante, pois desde o início ficamos sabendo que não será uma história de amor fácil, não será superficial e nem cheios de clichês românticos. A primeira cena da série já vem para deixar bem claro: não se iluda, nada será leve por aqui!
O drama começa atualmente e depois nos transporta para maio de 1980, em Gwangju – cidade a 268 quilômetros de Seul – que marcou a história sul coreana como o cenário de um dos piores massacres de civis na luta pela democracia no país. E é com esse pano de fundo assustador que vamos acompanhando a trajetória dos protagonistas. Na medida em que eles vão aparecendo e construindo relacionamentos, mostrando as lutas individuais de sobrevivência, a teia do momento político vai sendo construída, trazendo o temor, as tramas militares, o desespero dos estudantes, o horror da ditadura.
As cenas de tortura, com os jovens sendo espancados e mortos, as perseguições, as mentiras, tudo isso vai aumentando a nossa angústia e levantando o peso da história. São famílias impedidas de viverem suas vidas, pessoas corajosas que são presas e torturadas porque lutaram pela democracia.
“Se você permitir que o medo governe sua vida, você ficará cada vez mais amedrontado com as coisas, a ponto de não conseguir fazer nada. Se isso acontecer, você ficará ainda mais apavorado.” Youth of May
Minha opinião
É fácil se apaixonar pelo casal principal. Ela é uma enfermeira dedicada, uma mulher forte, doce e leal. Ele é um rapaz que luta com a própria consciência, precisa lidar com os abusos do pai e tenta trilhar o caminho sem a sua interferência. A gente já quer que eles fiquem juntos no primeiro momento em que se encontram.
Mas, como todo bom dorama, tem a dureza da vida, o momento político em que eles vivem. Tudo começa a contribuir para o caos e a cada episódio nós vamos acompanhando a saga dos dois e sofrendo junto com eles e com uma cidade inteira, que é massacrada de forma tão violenta. Embora tenha aquela dramatização típica dos K-dramas, o trunfo desta série está justamente na forma como abordaram o momento histórico, além do elenco muito competente. A produção não teve medo de usar de cenas de tortura, violência psicológica e pânico e funciona porque não é algo apenas para chocar.
Destaco aqui a atuação do camaleônico ator Kim Won-hae, que faz o pai de Myung-Hee. Não há nada que esse ator não consiga fazer. E no drama, ele entrega um pai perseguido pelos militares por ser taxado de comunista, um homem sofrido, triste e sem esperanças.
É para pensar por dias
O clima em Youth of May é sempre de medo, a gente fica relembrando as cenas iniciais, esperando que o terror não se concretize. E ao mesmo tempo, vamos assistindo ao inevitável com a sensação de impotência. O peso das escolhas de cada personagem, os acontecimentos…tudo vai deixando os episódios incertos, mas a importância do momento e o carisma dos protagonistas nos fazem manter a esperança, querer que seja diferente.
“Senhor, se algo inesperado acontecer e tivermos que soltar as mãos uns dos outros, por favor, não deixe a tristeza oprimir as vidas daqueles que ficaram para trás. Mesmo que as lágrimas que derramamos encham até o queixo, por favor, não nos deixe afogar e nos dê força e coragem para nadar com segurança ao longo da vida”. Youth of May
E para concluir…
Sem dúvida, este foi um dos dramas que mais mexeu comigo. Chorei alto, fiquei pensando nele por vários dias. É impossível não sofrer diante de todo o horror daquela situação. E o roteiro corajoso e inteligente é o maior destaque dessa produção, com momentos importantes no desenrolar da trama, personagens cativantes e respeito pelo momento histórico. Afinal, não é nada fácil trabalhar uma questão tão delicada da história, tocar feridas e, mesmo assim, garantir um bom resultado.
Por fim, apesar de algumas falhas – na minha opinião a amiga de Myung-Hee, que foi perdendo força na história até desaparecer –“Youth of May é uma série que impressiona pela coragem em mostrar algo que muitos países tentam esconder. É trágica, triste, mas que relembra um momento obscuro de forma a homenagear a todos os que sofreram naquele período. Daquelas histórias necessárias. Vale a pena assistir, pois é bem retratada e comovente do início ao fim. Mas não esqueça a caixa de lenços!
Breve relato do dia que ficou conhecido como “O Massacre de Gwangju”
A Coreia do Sul esteve sob o regime militar até o ano de 1979, governada pelo ditador Park Jung Hee, que foi assassinado. A partir daí, outro grupo militar, liderado por Chun Doo Hwan, aproveitando-se da crise no país, resolveu dar outro golpe, decretando lei marcial.
Em 18 de maio de 1980, a população de todo o país protestou, sendo a maior manifestação na cidade de Gwangju. Os soldados então, partiram para cima dos civis matando, prendendo e torturando quem fosse a favor da democracia. Esse massacre marcou a luta pelo regime democrático no país e é lembrado até hoje. Fonte: KoreaIn.
Destaque para o momento dos corpos enfileirados no ginásio da cidade. Esse triste relato é tratado tanto no no K-drama Youth of May quanto no livro Atos Humanos, da autora sul-coreana Song Kang.
“Não há almas aqui. Há somente cadáveres silenciados e aquele fedor pútrido e horrível”. Song Kang, Atos Humanos.
Youth of May está disponível no catálogo do Viki com o título “A Juventude de Maio”. Mas se você já viu ou quer começar a assistir, comenta com a gente.
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Eu sou Ana Paula Ribeiro e o meu perfil no Twitter é o ninapaularr.
Vou assistir!! Muita história!!!
Resenha maravilhosa!! Fiquei com vontade de assistir, gosto muito de produções que tem um relatório de evento histórico como pano de fundo.
Aaaah eu amo os seus textos Ana! Vou adicionar com certeza essa indicação na minha lista, com certeza vou chorar 😭
Profundo! parabéns!
Excelente resenha, praticamente uma análise completa, adoro os doramas principalmente pela forma que conduzem as narrativas.
Fiquei com vontade de assistir!
Caraca
Nao veria – falta de tempo – , mas pela analise ai, animei!!!
Adorei ler sua resenha, é como se estivesse assistindo novamente.
a história muito boa mesmo. Chorei também.
Mas realmente, como você bem disse vale a pena assistir.
Parabéns pelo seu belo texto.
Desculpe, pelos erros de ortografia em meu comentário
Show de bola! Vc arrasa demais nesses textos
Uau! Que resenha incrível!!! Com certeza irei assistir.