Minari pode ser o ‘queridinho’ da 93° edição do Oscar

Será?

O drama coreano americano de Lee Isaac Chung e da produtora A24 foi muito bem recebido pelo Festival Sundance do ano passado e foi um dos melhores avaliados pelos críticos do Rotten Tomatoes durante esta temporada de premiações, com 98% de aceitação da crítica e obtendo o prestigiado selo “Certified Fresh”. No entanto, foi esnobado pelo júri do Globo de Ouro, premiação que aconteceu na noite de ontem (28). Dentro de todo este contexto, o drama ainda tem chances de fazer história na maior premiação cinematográfica do ano?

Antes de iniciarmos uma conversa referente ao Oscar deste ano e as chances de Minari com a estatueta dourada, nada melhor do que uma breve recapitulação sobre a edição de 2020.

Há um ano, em fevereiro de 2020, acontecia a 92° edição da maior premiação hollywoodiana, o Oscar, e que trouxe como vencedores filmes intrigantes e revolucionários para a indústria, roteiros bem adaptados, direções espetaculares e atuações revigorantes e profundas. No entanto, o que realmente tornou o Oscar de 2020 um evento histórico, foi a premiação da última e mais importante de todas as categorias, a de “Melhor Filme“. 

Esta categoria estava um tanto competitiva, era como se quase fosse impossível escolher uma entre nove obras primas do cinema e todas de tirar o fôlego, tais como “1917”, “O Irlandês”, “Jojo Rabbit”, “Joker”, “Adoráveis Mulheres”, “Marriage Story“, entre outras. Contudo, uma em especial chamava mais a nossa atenção do que as demais,“Parasite”, por possuir uma singularidade na desenvoltura da história, por nos apresentar a desigualdade social empregnada no continente asiático e por nos entregar uma trama que decentraliza o cinema enraigado na tão propagada cultura americana, já que o filme era nada mais e nada menos do que uma comédia de humor-ácido sul coreana e que não recebeu dublagem. De tão especial, o drama cômico chamou a atenção da banca e foi o premiado da categoria, que recebeu a mais vibrante salva de palmas generalizada dos que estavam presentes no evento e, com toda certeza, recebeu muitos aplausos e gritos comemorativos dos que assistiam de casa, no sofá, os quais (segundos antes) torciam para que um filme internacional, pela primeira vez na história da Academia, levasse a estatueta de “Melhor Filme”.

 

 

Pois bem, mas a questão é: como tudo isso se correlaciona ao Oscar de 2021? Calma, que a gente te explica!

O fato é que há grandes indícios de que essa fórmula adotada pela banca do Oscar do ano passado, de premiar um filme que conta uma história de origem asiática e em uma categoria que sempre foi direcionada às produções norte americanas, possa vir a repetir-se, através do drama Minari, que recebeu excelentes críticas dos maiores da indústria.

O filme foi lançado na semana passada, através de cinemas drive-In, em vários países ao redor do globo, e tem inundado a internet, com comentários de prestígio á obra por parte dos telespectadores. Minari, uma produção da Plan B, com distribuição da A24 (esta que tem um histórico por lançar valiosos filmes indies), é dirigido por Lee Isaac Chung e recebeu a classificação de 98% de aceitação da crítica e 91% de aceitação da audiência, obtendo dessa maneira, o prestigiadíssimo selo “Certified Fresh”, selo este responsável por validar uma produção cinematográfica que possua um nível elevado de aceitação. 

O drama é um relato semi-biográfico da família do diretor, de ascendência coreana, nascido no Colorado, Estados Unidos. Com sutileza, e de forma excêntrica, a trama nos mostra como as relações socioeconômicas afetam e se entrelaçam às nossas relações familiares. A história acompanha uma família coreana-americana, na década de 1980, que se muda para uma pequena fazenda no Arkansas (EUA), em busca do tão estimado “sonho americano”. Nesta trajetória de muita coragem e resiliência, inúmeros desafios se apresentam, desafios esses que se tornam essenciais para o aprendizado e uma maior valorização da união familiar por parte do protagonista Jacob Yi, interpretado pelo ator sul-coreano Steven Yeun, que também é um dos produtores do drama. 

O filme não pode ser considerado como internacional, já que foi inteiramente rodado nos Estados Unidos, em Oklahoma. Mesmo com este fator, os diálogos são majoritariamente coreanos, tendo uma cena ou outra onde os personagens pronunciam, e ainda assim, poucas palavras em inglês, o que acaba por permitir que a produção se enquadre nas premiações para filmes internacionais, mesmo sem ser (na prática) um filme internacional.

Minari foi um dos grandes vencedores das categorias principais da última edição do Festival de Sundance, em 2020. A obra cinematográfica dominou tanto na categoria decidida pelo público, quanto na decidida pelo júri do evento e tem grandes chances de fazer história no Oscar deste ano. 

Se Steven Yeun, que nos entregou uma performance excepcional, chegar a ser indicado a melhor ator, o que não é nada difícil de acontecer, se tornará o primeiro ator asiático-americano nomeado à categoria. Mesmo em 2020, com Parasite vencendo o prêmio de melhor elenco no Screen Actors Guild Awards (SAG), uma premiação que funciona como um grande termômetro na indicação de possíveis nomeações para melhores performances à estatueta dourada, nenhum ator ou atriz do elenco coreano sequer foi lembrado nas categorias de atuação da 92° edição do Oscar, infelizmente.

 Bong Joon Ho, diretor de Parasita que venceu o Oscar 2020
Bong erguendo a estatueta ao receber o Oscar (2020)

Além disso, caso o diretor de Minari, Isaac Chung, venha a ser nomeado na categoria de melhor direção pela Academia, o que também é muito possível, ele se tornará o quinto diretor asiático a ser indicado nos 93 anos de existência da premiação, sendo que o último foi no ano passado, o diretor Bong Joon-Ho, que graças a seu trabalho fenomenal em Parasite, levou a estatueta para casa.

No mês passado, Minari recebeu apenas uma nomeação para a 78° edição do Globo de Ouro, evento que aconteceu ontem, dia 28, ás 22h (no horário de Brasília), sendo nomeado unicamente na típica categoria “Melhor Filme Internacional”, na qual foi o vencedor, e em nenhuma outra. Logo após o anúncio dos nomeados da premiação (que ocorreu no dia 3 de fevereiro, quatro semanas antes do evento em questão) o público, os críticos e também outros nomes de grande influência no cinema retaliaram a Associação de Imprensa Estrangeira de Hollywood e o júri da premiação, já que o filme era um dos mais cotados para diversas outras categorias.

No momento, o Globo de Ouro atravessa um verdadeiro massacre virtual, dadas as reações de profissionais que saíram em defesa de uma reconsideração para o caso de Minari, sem contar com a recente polêmica levantada pela Time’s Up poucos dias antes do evento acontecer, que critica a falta de eleitores negros na premiação, baseada na investigação da Times, responsável por evidenciar os lapsos éticos e a falta de qualquer membro negro no corpo de votação que distribui os prêmios. Referente á isso, na própria premiação, uma das apresentadoras se pronunciou:

“Hollywood precisa evoluir. Devemos mudar isso, corrigir isso, e pra já!” Tina Fey

Agora, a questão que fica em aberto é: qual será a posição da Academia no meio de todo este caos e desarranjo na indústria cinematográfica? A 93° edição do Oscar será a salvação que tanto aguardamos para uma maior valorização do cinema asiático deste ano? No início deste mês (09) a Academia de Artes e Ciências Cinematográficas de Hollywood, responsável pelo Oscar de 2021, divulgou a pré-lista de indicados em nove categorias. Já na pré-lista, Minari aparece entre os pré-indicados em “Melhor Trilha Sonora Original” e em “Melhor Canção Original”, o que nos traz um certo alívio e esperança de que este poderoso drama seja mais valorizado no Oscar, do que foi no Golden Globes.

 

 A cerimônia da premiação está marcada para acontecer no dia 25 de abril deste ano, em Los Angeles, e terá sua lista completa revelada em 15 de março.

Aqui no Brasil, Minari tem data marcada para estrear em 25 de março, em alguns cinemas drive-In pré selecionados. Até o momento, o filme não consta em nenhum catálogo de nenhuma plataforma de streaming brasileira.

 

Por Jessica Blaine

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