Cabrini – Um filme fantástico!! || Resenha

Se liga!!

Já de cara, quando aparece “baseado em fatos reais”, sobe um arrepio de extrema expectativa do que está por vir.
Dizem que o filme retrata uma realidade vivida por várias gerações, culturas e pessoas. Em pleno 2024, falar sobre o preto, o negro, é uma moda, além do “lugar de fala” e o empoderamento negro. O feminino é destaque.

Cabrini || Hospício Nerd
Copyright Saje Distribution

Vemos uma freira italiana que nunca saiu de sua região, da sua cidade. Ela mandava cartas para Roma com a missão de mudar o mundo a partir de coisas simples. Fundou um orfanato e enfrentou desafios e censuras, tudo isso em pleno século XIX. Estamos falando de 1800 e bordoadas, onde, mesmo naquela época, era difícil falar sobre o futuro e o avanço da sociedade. Homens censuravam mulheres, que não tinham voz, presença, nem espaço, sendo completamente silenciadas. A gente sente isso (pelo menos eu) junto com a personagem, que retrata a irmã, hoje padroeira dos imigrantes. Sentia ela que sua missão era mudar o mundo a partir da esperança e do amor.

Quando vemos a obra, percebemos que, dentro da Igreja Católica, a censura era algo além do que se podia imaginar, uma realidade invisível. Se já vemos problemas hoje em dia, imagine antigamente, quando as pessoas realmente queriam ajudar o próximo e fazer boas ações. Ainda assim, enfrentavam dificuldades impostas pela Igreja ou por representantes políticos.
Não foi diferente para ela, que mandava cartas pedindo autorização ao Papa para realizar ações necessárias. Há toda uma cadeia de comando, uma cadeia de autoridade.

Cabrini || Hospício Nerd
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Com toda a motivação para fazer o bem, ela tinha que seguir aquele procedimento hierárquico, pedindo permissão, “bênção”, em um mundo machista. Infelizmente, ainda vivemos numa era machista. Muitas pessoas ainda são censuradas, e muitas vozes seguem silenciadas. Os poderosos temem as minorias, que se tornam minorias pela falta de comunicação e acessibilidade. Isso nos faz repensar e discutir políticas sociais. A freira, ao pedir apoio e ser censurada pelos senhores da Igreja, que “juraram” atuar pela fé, enfrentava medos para dar um passo adiante. Ela começa a incomodar aqueles em posições de autoridade, pois, ao longo da história, essas pessoas não entendem os desafios que ela enfrenta. Mesmo com sua saúde debilitada, com médicos dizendo que teria poucos anos de vida, ela segue rompendo barreiras.

Mas ela corre contra o tempo, ajudando pessoas e se perguntando quanto tempo ainda teria para cumprir sua missão.
Quando sai da Itália e vai para os Estados Unidos, queria começar sua jornada em outro lugar. Mas o Papa disse: “Comece pelos Estados Unidos.” Assim, a jornada dela começou, mas com uma péssima recepção e palavras preconceituosas ditas a seu respeito. Isso é muito doloroso para quem já passou por isso, e, ainda hoje, sabemos o quão desconfortável é.
Isso me lembra quando fiz aula de tango e perguntei ao professor por que os dançarinos tinham tantas expressões faciais.
Ele me respondeu que os dançarinos (ou moradores) não se sentem pertencentes ao lugar em que estão, como na Argentina.
Mas isso acontece em outros lugares também. A mudança de lugar, de região, reflete a busca por uma nova oportunidade, uma nova vida. Isso é típico dos imigrantes e já era um problema naquela época, no século XIX.

Imagine agora, em 2024, onde muitos dos mesmos desafios ainda existem. Hoje, muito foi conquistado com sangue, suor e muita luta, mas ainda vemos presidentes atacando o desenvolvimento dos imigrantes, mandando-os para fora. Isso me faz pensar que, no fundo, a humanidade devia ser mais simples, vivendo de forma natural, comendo frutas, sem as barreiras impostas pela delimitação de territórios. No final, o filme trata de questões de resistência, resiliência e, especialmente, a luta da mulher em um mundo onde a presença feminina é questionada e silenciada.

Cabrini || Hospício Nerd
Copyright Saje Distribution

A freira não se deixou abalar por isso. Ao contrário, permaneceu firme, forte e persistente até os últimos dias de sua vida.
O filme tem uma fotografia espetacular, mesmo sendo de uma época tão distante. Na minha opinião, merece um Oscar de Melhor Fotografia e Melhor Direção de Arte. Os enquadramentos, as centralizações… Eu fiquei empolgado com o quanto a parte visual do filme foi bem feita. As transições de idioma, com momentos em italiano e outros em inglês, não comprometeram a qualidade da história e tornaram a experiência ainda mais rica. O filme é tão bom que as duas horas de duração passaram voando.

E ainda tem cena pós-crédito e uma participação musical especial, com uma dedicatória de Andrea Bocelli no final.
O filme também fala sobre contribuição e ajuda. Ele pede doações para continuar o trabalho que Cabrini começou, e que ainda hoje se espalha pelo mundo. Ele é sobre resistência e nunca desistir, sobre o poder de persistir, especialmente quando se trata da presença feminina em um mundo que tenta silenciar essa voz. Ao longo da obra, Cabrini se manteve firme, mesmo com todos os obstáculos. Ela não se intimidou, resistiu e seguiu seu caminho.

E o filme faz um pedido simples: que você, se puder, contribua com as instituições beneficentes que ela fundou, como os orfanatos e hospitais que continuam seu trabalho até hoje.

Resenha By: Henrique Pheniato 

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