Olá guardiões do multiverso.

A última temporada de What If…? chegou com algumas maluquices a mais e episódios mais criativos, porém nada imperdíveis.

Foco na série B.

Enquanto as duas primeiras temporadas focavam nos astros maiores da Marvel — os Vingadores, Guardiões da Galáxia e todos os grandes nomes que firmaram a empresa nos seus 10 primeiros anos —, aqui tivemos um destaque maior para os personagens que vieram a partir da Fase 4. Uma pena que isso não aconteceu antes, porque parece que a série funcionou muito melhor com essas aventuras mais galhofas. As histórias descomprometidas pareciam fluir melhor do que as mais sérias. A série só parecia funcionar quando abraçava a maluquice, e não quando tentava se aproximar do épico dos filmes.

Episódios que falavam sobre o filho de Howard, o Pato, com Darcy Lewis, Agatha Harkness em Hollywood, e Kate Bishop e Shang-Chi formando uma dupla no Velho Oeste exibiam uma criatividade em que os roteiristas realmente podiam brincar com os personagens e aventuras. Enquanto isso, episódios mais sérios — como os Vingadores pilotando robôs gigantes ou Riri Williams enfrentando um mistério — pareciam ter uma ordem explícita de não mexer na personalidade dos personagens, para não comprometer sua imagem nos próximos filmes e séries da Marvel. Assim, personagens como o Capitão América Sam Wilson ou Bruce Banner não tiveram nenhum desenvolvimento e apareceram apenas para cenas de ação genéricas. Por outro lado, personagens que não terão mais destaque fora de animações ou produções menores ganharam um enfoque maior. Mas isso teve um custo alto.

Reprodução Disney Plus.

A famosa flanderização.

O termo surgiu por causa do personagem Ned Flanders, de Os Simpsons. Em resumo, significa pegar uma característica de um personagem e torná-la sua principal, a ponto de ele não parecer nada além disso. No começo, Ned Flanders era um pai de família que ia à igreja e cuidava dos filhos. Com o tempo, virou apenas um religioso fervoroso e chato, apagando qualquer outro detalhe da sua personalidade. Joey, de Friends, passou pelo mesmo. Bob Esponja também. E muitos outros personagens da cultura pop sofrem com isso.

Em What If…?, vimos Howard Stark, que deixou de ser um gênio da Segunda Guerra Mundial para virar um homem bobo, preocupado apenas com dinheiro. O Guardião Vermelho, de super-soldado soviético, passou a ser um personagem que não consegue dizer uma frase sem criticar o capitalismo e exaltar Lenin, como se isso fosse tudo que ele tivesse a oferecer. Essa redução cansou muito a temporada, que parecia não ter mais nada a contar além de explorar os personagens menores e transformar os maiores em caricaturas do que foram.

Reprodução Disney Plus.

Um final apressado.

No último episódio, temos uma aventura final com o Vigia e sua equipe, que agora conta com a Tempestade, Deusa do Trovão. Isso mostra que os mutantes estão mais integrados ao universo. No entanto, é uma pena que uma das mutantes mais legais dos X-Men tenha aparecido como um enfeite brilhante para o fim da temporada, sendo apenas um esboço do que realmente é. Eles poderiam, com facilidade, tirar um dos episódios desta temporada para criar um focado na Tempestade e mostrar como ela conquistou o Mjolnir. Mas ela acabou servindo apenas para impactar o trailer e a divulgação da animação.

Reprodução Disney Plus.

Duas ideias que se anulam.

As aventuras de cada episódio poderiam funcionar como uma espécie de Black Mirror, uma antologia criativa sobre o multiverso da Marvel, com histórias malucas, como o tema pede. Alternativamente, a animação poderia focar na bagunça do Vigia interferindo nos universos e levando a batalhas cada vez mais intensas. Misturar essas duas ideias enfraqueceu ambas. A tentativa de fazer as duas coisas resultou em uma série aquém do seu potencial.

No geral, é uma surpresa que a série tenha chegado à terceira temporada. Em um mundo com animações como Arcane, X-Men ’97, Minhas Aventuras com Superman e tantas outras da Marvel, DC ou de outras marcas, What If…? não tem nada de especial.

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Texto por: David Alves