Pecadores – Uma pílula cinematográfica com gosto de reparação e resistência || Resenha

Tá preparado/a?
Muito bem, meus internados nerds! Cheguei com aquela pílula em forma de resenha cinematográfica — e hoje, com ênfase no povo preto que busca criar possibilidades reais a partir da reparação histórica. Aqui, o papo é reto: a exigência de ocupar espaços colonizados é legítima, mas… será que é o caminho? (kkk, risos, ok?!)
Antes de mais nada: essa resenha é 100% baseada na minha opinião. Feshow? Então tomem esse remedinho com moderação, porque pode ter efeitos colaterais.
Nem sei por onde começar a falar dessa obra — ainda mais porque tive o privilégio de assisti-la na sala IMAX do Shopping Boulevard. Foi minha primeira vez nessa estrutura, e eu fiquei maravilhado. A combinação da obra com o espaço me proporcionou uma experiência cinematográfica inédita e poderosa.
Como diretor, diretor de fotografia, roteirista e ator, meu olhar é puxado automaticamente para a construção visual, narrativa e de atuação. Logo de cara, algumas manias da direção norte-americana e estruturas de roteiro já me deram uma leve cansada — são fórmulas que se repetem há milênios. Claro, funcionam para o grande público, que já está meticulosamente adestrado pela indústria hollywoodiana.
Agora, quando falamos de fotografia… A escolha de trabalhar com luz natural tem ganhado força, e com razão. A tecnologia atual permite capturar detalhes com câmeras sensíveis a ponto de superar um globo ocular saudável. Eu, particularmente, sou fã dessa estética mais contida, que exige paciência e domínio técnico. E Sinners entrega isso com perfeição — a fotografia está simplesmente impecável.
Apesar de ser vendido como um filme de terror, eu não concordo. Pra mim, é suspense com pitadas de romance e ação, tudo com um tom leve. O “terror” vivido pelos personagens não me gerou medo, mas sim tensão e incômodo — e talvez essa seja a real proposta: causar inquietação mais pela mensagem do que pelo susto.
O ponto que mais me pegou foi a reflexão sobre reparação histórica. Hoje, esse é um dos principais argumentos dentro das lutas da comunidade negra: exigir que a estrutura de poder branco ceda espaço para que nós, historicamente marginalizados, possamos acessar o básico para uma vida digna.
Mas a real é dura: essa reparação não vai ser entregue de mãos beijadas. E o filme denuncia isso com força. (Spoiler) No momento em que os gêmeos compram uma propriedade que antes pertencia a um dos chefes da KKK, tudo parece um avanço… mas é uma cilada.
Na minha leitura, essa cena mostra como o ato de “ocupar espaços” muitas vezes é uma armadilha bem arquitetada. Nos distraímos tentando caber onde nunca fomos bem-vindos, em vez de construir nossos próprios territórios, com nossos próprios valores.
Um dos pontos altos do filme é a abordagem espiritual. A forma como a história valoriza o poder da reconexão do povo preto com seus ancestrais é linda, potente e necessária. Essa dimensão espiritual, tão presente nas culturas africanas e afro-diaspóricas, é tratada com respeito e sensibilidade.
Sinners é mais que um filme — é uma provocação. Com uma fotografia afiada, atuações incríveis e uma mensagem que atravessa séculos de dor e luta, ele questiona se estar nos espaços de sempre realmente é vitória… ou só uma repetição disfarçada.
Se você curte cinema com propósito, arte com discurso e histórias que cutucam onde dói, pode tomar essa pílula sem medo. Só lembre: ela vem com efeitos colaterais — principalmente se você ainda acredita que reparação virá de quem causou a ferida.
Magnífico! Quero ver!