Deixa – Silêncios que dizem tudo! || Resenha

Se liga!!

Deixa é um daqueles curtas que ficam longos na memória. Em apenas 15 minutos, Mariana Jaspe nos conduz por um dia aparentemente banal, mas que carrega o peso de uma vida inteira. A protagonista, Carmen (vivida com força e sensibilidade por Zezé Motta), vive seu último dia de solidão antes da libertação de seu marido, que volta para casa após anos na prisão. É um “último dia de liberdade” que reverbera em camadas muito mais profundas do que o título sugere.

A grande sacada do filme está na contenção. Jaspe escolhe não verbalizar os conflitos de Carmen — ela nos convida a observar gestos, pausas, olhares vazios e pequenos rituais cotidianos. O silêncio é cúmplice da narrativa, preenchido por uma tensão quase palpável. Carmen prepara café, caminha pela casa, olha pela janela. E cada uma dessas ações parece gritar o que ela não consegue ou não quer dizer.

Zezé Motta, como sempre, entrega uma atuação que vai além da tela. Com um olhar, ela mostra tudo: medo, resignação, raiva e talvez até um fio de esperança. É um desempenho nu, sem artifícios, que confia no poder do tempo e da presença. A direção de Jaspe, com planos fixos e uma fotografia sóbria, reforça essa sensação de clausura emocional. O mundo de Carmen é pequeno, mas suas emoções são imensas.

Deixa é sobre escolhas, sobre aquilo que deixamos partir e o que escolhemos manter — mesmo quando isso nos custa a paz. É um filme que não tenta explicar sua protagonista, apenas nos convida a senti-la. E, no fim, é justamente isso que torna essa história tão poderosa.

O curta faz parte da 2ª edição do Festival DoutroLado, um evento que dá espaço para produções vindas diretamente das periferias!! Bora seguir o perfil deles, e bora partir para a 3ª edição!!