Entenda a polêmica racial entre a revista ‘Variety’ e a atriz Anya Taylor Joy

Eita!

Anya Taylor Joy roubou a atenção e admiração de vários telespectadores ao redor do mundo com sua sublime performance na série dramática da Netflix “The Gambits Queen”. A atriz, vencedora do Globo de Ouro na categoria de “Melhor Atriz em Minissérie” e que no último final de semana conquistou a estatueta da premiação Critic’s Choice Television Awards, também por “Melhor Atriz em Minissérie”, personificou perfeitamente a talentosa e problemática enxadrista Beth Harmon. Desde então, diversos tabloides e revistas virtuais de renome estampam artigos e mais artigos que retratam a imersão de seu sucesso um tanto repentina (Taylor já era conhecida por seu trabalho notável em indies, mas sua fama mais do que dublicou com o lançamento da série em nível mundial) e  o gigantesco talento de Anya, sendo ainda tão jovem (24 anos). Entretanto, uma dessas matérias repercutiu mais do que as demais e não foi por um bom motivo.

O texto foi publicado na revista norte-americana Variety — que raramente comete erros — no último dia 28 e descreveu a jovem atriz como uma “woman of color”, que aqui no Brasil se traduz como “mulher de cor”. O trecho responsável pela polêmica, que se alastrou na internet ao decorrer da última semana, é destacado abaixo.

 

“A argentina Taylor Joy é a primeira mulher de cor a vencer esta categoria desde Queen Latifah em 2008 e apenas a quinta mulher de cor a vencer desde 1982.”

 

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Queen Latifah e Taylor Joy”?! Não sei se sou a única, mas acredito que a diferença racial entre as duas seja mais do que nítida!

Não, definitivamente não sou a única, o assunto se polarizou entre os usuários do Twitter (obviamente que seria lá) e criou uma certa revolta que acabou levando a revista a corrigir seu drástico erro, esclarecendo que a atriz se identifica como “uma latina branca”, nas próprias palavras da Variety.

 

 

A questão que permanece é o porquê dessa errônea identificação por parte da revista, já que a atriz é visivelmente branca. A resposta se consiste na cultura norte-americana e na compreensão dos estadunidenses de que todo latino ou indivíduo pertencente às demais minorias raciais é “de cor”.

Em entrevista ao jornal Correio Braziliense, o professor e cientista político Efrén Pérez, da Universidade da Califórnia em Los Angeles (UCLA), nos explica o porquê dessa nomenclatura ser bastante utilizada na língua inglesa em contextos que, em outros países do globo, não se associa. 

 

“A categoria em si é uma forma de identificar uma comunidade de indivíduos. Pode parecer artificial, mas o que torna ‘uma pessoa de cor’ nos Estados Unidos é que ela pertence a uma minoria racial ou étnica. Com relação a essa atriz, é claro que sua aparência é mais europeia do que a de outros latinos, que podem ser de origem mexicana ou porto-riquenha, por exemplo.”

 

Pérez ainda afirma que os próprios membros de minorias raciais, nos Estados Unidos, por diversas vezes, se autodenominam “de cor”, devido a essa concepção exclusivamente americana.

 

“É basicamente uma categoria psicológica, algo que se formou ao longo do tempo. As pessoas que vieram do México, da Argentina ou de Cuba para os Estados Unidos foram forjadas aqui como latinas ou como hispânicas. Essas categorias não existiam antes. E isso é muito semelhante à questão das ‘pessoas de cor’. Eu mesmo me identifico como uma pessoa de cor pela experiência que tive como alguém de raízes mexicanas nos Estados Unidos, porque fui tratado como uma minoria, como alguém que está fora da força maior.”

 

Em resumo, é como se nos países norte-americanos, ser uma “pessoa de cor” englobasse não apenas a cultura e raça afro-americana, mas também a raça latina, a asiática, a anglo-saxã e os povos ameríndios (indígenas nativo americanos).

No entanto, no caso da atriz, tal classificação não se aplica, já que a própria não se identifica de tal maneira e cresceu em um contexto argentino (Joy nasceu em Miami, Estados Unidos, mas seu pai é argentino. Ainda bebê, ela se mudou com os pais para a Argentina e viveu lá até os seis anos), onde a concepção de “pessoas de cor”  refere-se unicamente à pessoas negras e pardas, o mesmo caso empregado aqui no Brasil. Em uma entrevista para o canal da Netflix Latinoamérica, ela destaca:

 

“Venho de muitos lugares, mas minha qualidade e minha atitude perante a vida vêm da Argentina. Eu realmente aprecio essa parte da minha história. Sinto-me muito orgulhosa de vir da Argentina.”

 

Felizmente, toda essa altercação foi resolvida e tal acontecimento serve como um aprendizado para certos meios de comunicação norte-americanos ficarem um pouco mais atentos a tais questões de classificação racial.

A entrevista, na íntegra, onde a atriz fala um pouco de seu orgulho argentino, pode ser acompanhada abaixo, e que espanhol perfeito é este da Anya, em?!

 

Por Jessica Blaine

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